(*) Fernando Pimentel –
Nos próximos cinco anos, estimulado pelo incremento da renda, o consumo de têxteis e vestuário no Brasil poderá aumentar cerca de 50% em termos per capita. Em 1995, tínhamos renda por habitante/ano de R$ 12,43 mil e consumo de 8,7 quilos. Hoje, temos, respectivamente, R$ 15,38 mil e 12,8 quilos. Em 2016, deverão ser R$18,34 mil e 19,8 quilos.
Segundo o BNDES, nenhum ramo da manufatura tem maior potencial para criar empregos do que o têxtil e de confecção. A cada R$ 10 milhões a mais na produção, ele contrata 1.382 pessoas. O setor também é relevante por representar quase 3,23% do PIB e mais de 10% dos postos de trabalho da indústria de transformação. Seu parque industrial representa R$ 80 bilhões em ativos, com 30 mil empresas em atividade, oito milhões de empregos diretos e indiretos, faturamento anual de R$ 90 bilhões (em 2010) e presença em todo o território nacional.
Outra contribuição do setor é que, nos 17 anos do Plano Real, ele foi o que mais contribuiu para o controle da inflação. Medida pelo IPCA, a evolução acumulada de seus preços foi de 181,4%, contra 289,3% (até agosto 2011) da economia em geral. Só na energia elétrica, a majoração superou a 500%.
É importante salientar que o desenvolvimento do setor tem ocorrido num ambiente desfavorável à competitividade, comprometida pela carga tributária, deficiência na defesa comercial, custo de capital e infraestrutura elevado, crescimento das importações e desequilíbrio cambial. Devido a esses problemas, aliás, o Brasil ocupa apenas a 128ª posição no Ranking de Competitividade do World Economic Forum 2009-2010. Falta-nos isonomia nos fatores sistêmicos de competitividade. Assim, não é difícil entender o porquê da forte penetração de importados no País, que se agrava à medida que o aquecimento de nossa economia atrai a cobiça dos exportadores.
Enquanto nos deparamos com tais obstáculos, nossos concorrentes asiáticos, com destaque para a China, depreciam suas moedas para ganhar mercados. Dessa forma, aumentam ainda mais sua competitividade, já turbinada por incentivos financeiros e tributários, além de práticas ambientais, trabalhistas e previdenciárias totalmente distintas do que se observa nas nações aderentes ao capitalismo democrático.
Não podemos franquear nosso mercado a terceiros. Nos primeiros sete meses de 2011, em relação a igual período de 2010, a produção têxtil caiu 14,4%, a do vestuário decresceu 3,03%, o varejo cresceu em torno de 6,7% em volume de vendas e as importações de roupas aumentaram 40%. Estas, que matam a cadeia produtiva têxtil e de confecção, aumentaram 16 vezes em menos de uma década. Por conta disso, o setor deverá fechar 2011 com déficit recorde em sua balança comercial (US$ 5,2 bilhões) e, conforme estimativas preliminares, deixará de criar 200 mil empregos, que serão gerados na Ásia.
Visando à maior competitividade, defendemos medidas imediatas, algumas previstas no plano Brasil Maior, mas ainda não implementadas: criação de modelo tributário, trabalhista e previdenciário que desonere as empresas têxteis e confeccionistas; e o regime Simples optativo, por 20 anos.
O setor também está fazendo sua lição de casa, como sempre procedeu, para acompanhar as mudanças do Brasil e do mundo. As estratégias em curso até 2023 são as seguintes: aumentar a percepção do valor dos produtos e serviços nos mercados interno e externo; criar plataforma tecnológica queimpulsione a inovação; atrair e reter talentos em áreas estratégicas doconhecimento; tornar as empresas inovadoras do setor atrativas para investidores; e integrar governo, academia, associações e empresas em uma rede sustentável de criação de valor. A indústria têxtil e de confecção vislumbra o futuro com otimismo. Por isso, mobiliza-se para remover os obstáculos à produção e ao crescimento.
(*) Fernando Pimentel é diretor-superintendente da ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção)