Por trás da inevitável queda de Orlando Silva existe algo que vai muito além do pântano da corrupção

Enxadrismo político – Erra quem pensa que a estocada palaciana em Orlando Silva Jr., acusado de envolvimento em esquema de desvio de verbas no Programa Segundo Tempo, é a ação derradeira de um processo que apenas começou. Principalmente porque a amaldiçoada herança deixada pelo messiânico Luiz Inácio da Silva à sua sucessora, Dilma Rousseff, está nos primeiros capítulos de sua reticência macabra.

Com base em um acordo político que garantiu a eleição de Dilma Rousseff, o Partido Comunista do Brasil, o PCdoB, tem como quinhão compensatório o Ministério do Esporte. Quando, após ter a vitória confirmada nas urnas, Dilma Rousseff anunciou que montaria sua equipe ministerial com base em critérios técnicos e de competência, a agora presidente foi obrigada a se curvar às imposições de seu mentor eleitoral, o abusado Lula. Por conta disso, Orlando Silva foi mantido no Ministério do Esporte, contrariando um desejo de Dilma, que gostaria de ver a comunista gaúcha Manuela D’Ávila no comando da pasta. O que explica o fogo amigo e repentino na direção da jovem deputada federal pelo PCdoB do Rio Grande do Sul.

Guindado à presidência da Embratur, o advogado maranhense e ex-deputado federal Flávio Dino é um dos cotados para assumir substituir Orlando Silva no Ministério do Esporte. O nome de Dino estaria ainda mais forte se a FIFA não tivesse confirmado, nesta quinta-feira (20), a cidade de São Paulo como palco do jogo de abertura da Copa do Mundo de 2014, o que atende aos interesses de Ricardo Teixeira, presidente da CBF, que desde o começo deste ano vive às turras com Dilma Rousseff.

Para complicar a vida de Ricardo Teixeira e dar asas à sua popularidade, não sem antes apagar o carimbo da corrupção que estampa seu governo, Dilma Rousseff pode convidar o ex-jogador Romário de Souza Faria, deputado federal pelo PSB do Rio de Janeiro, para assumir o Ministério do Esporte. Senhor de currículo político sem nódoas, Romário é um conhecido desafeto do presidente da CBF. Fora isso, o ex-centroavante da seleção brasileira faria uma excelente dupla com Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, escolhido por Dilma como embaixador brasileiro para a Copa.

Independentemente de qual seja o nome escolhido, Dilma terá de vencer uma forte resistência do PT, partido que no passado a própria presidente não economizou críticas. O jogo duro petista, que já se faz presente nos bastidores, se justifica pela necessidade de a legenda acomodar a senadora Marta Suplicy (PT-SP) em algum cargo relevante, uma vez que a petista já teria exigido um lugar na Esplanada dos Ministérios como moeda de troca para desistir de concorrer à prefeitura de São Paulo, em 2012, onde Lula da Silva quer emplacar o desconhecido Fernando Haddad, pífio ministro da Educação.

Se chegar ao Ministério do Esporte, como desejam os petistas, Marta Suplicy fica de fora da disputa pelo trono paulistano, mas ganha visibilidade política para concorrer ao Palácio dos Bandeirantes em 2014, ano da Copa do Mundo. Pesa a favor de Marta o desejo da presidente Dilma Rousseff de aumentar o número de mulheres na equipe de governo. No caso de ser convidado (e aceitar) para substituir o agora queimado Orlando Silva, o deputado Romário dificilmente concorrera à prefeitura do Rio de Janeiro. Se a escolhida for a comunista Manuela D’Ávila (as chances são pequenas), o PT terá eliminado uma concorrente de peso na disputa pela prefeitura de Porto Alegre.

Resumindo, o escândalo do Ministério do Esporte é um pênalti marcado no último minuto da prorrogação, mas a bola e o direito de chutar ainda estão com Dilma Vana Rousseff. Façam suas apostas, pois política no Brasil virou loteria.