No país do futebol, compreender o esporte bretão é coisa para poucos e loucos

    (*) Ucho Haddad –

    Faltando menos de três anos para a Copa do Mundo, o maior evento esportivo do planeta, o futebol brasileiro está vivendo um dos momentos mais estranhos de sua história. Não por causa do escandaloso atraso nas obras dos estádios e das cidades-sede, como também nos aeroportos, mas o Campeonato Brasileiro, principal certame nacional, transformou-se em uma espécie de monumento ao incompreensível.

    Há dias, após a partida contra o Libertad (Paraguai), válida pela copa Sul-Americana, uma pergunta formulada pelo jornalista esportivo Wanderley Nogueira, da Rádio Jovem Pan e um dos maiores do País, suplantou o primeiro gol marcado pelo atacante Luís Fabiano depois de seu retorno ao tricolor paulista. Ao técnico interino do SPFC, Milton Cruz, o jornalista perguntou qual é o perfil do técnico ideal para a equipe do Morumbi, uma vez que Adilson Batista fora demitido dias antes por conta dos maus resultados. Funcionário do clube há anos e elo entre a diretoria e os jogadores e técnicos, Cruz preferiu sair pela tangente, alegando que tal assunto era de responsabilidade dos cartolas tricolores.

    Minutos antes, Milton Cruz, na costumeira entrevista coletiva, fez uma rápida análise da equipe que ainda não empolgou no Brasileirão. Afirmou o interino do Morumbi que o time atual deve atingir seu ápice em meados de 2012. Em outras palavras, cobranças a essa altura são prematuras. Os alvissareiros de plantão acreditam que a chegada de um técnico de peso ao clube paulista poderá reverter o quadro atual, mas é preciso lembrar que a opinião do técnico interino é sempre considerada pela cartolagem local. Ou seja, defenestrar Adilson Batista foi uma atitude no mínimo precipitada. Sem contar que um técnico de ponta pode tropeçar na mesma esparrela do antecessor, como já aconteceu em situações anteriores.

    Mudando de bairro, mas ainda em São Paulo, outro absurdo futebolístico chacoalha a Sociedade Esportiva Palmeiras, que mesmo sob o comando do competente Luiz Felipe Scolari não deslancha no Campeonato Brasileiro. Carecendo de nove pontos para manter o sonho de participar da Copa Sul-America de 2012, o Palmeiras está tomado por um cipoal de confusões.

    Não faz muito tempo, um atleta do onze alviverde foi agredido por torcedores contrariados com o péssimo desempenho do time no Campeonato Brasileiro. Vale lembrar que não foi a primeira vez que esse tipo de crime acontece pela ação de criminosos que se escondem sob o manto de torcedores. Costumeiramente calada, a diretoria palmeirense informou que aguardará o resultado das investigações policiais para se pronunciar, até porque os dirigentes jamais admitirão que trata-se de suicídio administrativo um dos grandes clubes brasileiros manter boas e estreitas relações com as baderneiras torcidas organizadas.

    Não obstante, o Palmeiras vive às voltas com o caso Kleber, jogador que liderou uma intifada no Palmeiras e foi afastado do elenco pelo técnico Felipão. De personalidade marcante e firme em suas decisões, Scolari anunciou que Kleber não mais jogará sob o seu comando. Em clubes cujas diretorias são minimamente responsáveis, o jogador já estaria demitido. Mas no Palmeiras isso não acontece. O presidente do clube, Arnaldo Tirone, prefere esperar a baixa da fervura para decidir o que fazer com Kleber, que, segundo consta, já está buscando na Justiça uma forma de romper o vínculo com o outrora Palestra.

    Na esteira dessas incongruências o futebol se aproxima cada vez mais do incompreensível. O SPFC, equipe que só alcançará o seu melhor dentro de alguns longos meses, demite o técnico faltando poucas rodadas para o final da mais importante competição futebolística do País. Na outra ponta, o Palmeiras, cuja história é tão importante e grande quanto a do rival tricolor, mantém no comando do time um dos bons técnicos da atualidade, mas se acovarda ao não demitir um atleta destemperado e que lidera rebelião intramuros.

    Depois desses oximoros da incompreensão, só falta surgir em cena alguém provando que a bola, aquela cobiçada figura geométrica que rola nos gramados, é quadrada. Aí sim poderemos dizer que o fim está próximo.