Oposição trata delator como celebridade e perde oportunidade de investigar corrupção no Esporte

Tiro pela culatra – No Brasil, assim como em várias partes do mundo, a política está longe de ser uma reunião de monges tibetanos, ao mesmo tempo em que raros são os caso em que alguém aceita, por patriotismo ou espírito público, a indicação do Executivo para ocupar um cargo na estrutura governamental.

Quando surgiram as notícias de que o Ministério do Esporte estava sob uma avalanche de corrupção, a reação da opinião pública foi considerada morna, pois afinal o assunto não era tão novo e exclusivo como alguns imaginaram. Desde a era de Luiz Inácio da Silva a pasta vem sendo alvo de denúncias, mas nada ficou comprovado até então. A esperança ressurgiu com a fala firme e incriminadora do delator João Dias Ferreira, policial militar do Distrito Federal envolvido no esquema de desvio de recursos públicos, mas o castelo ruiu diante da sua afirmação de que não há qualquer prova direta contra o ministro Orlando Silva Jr., do PC do B.

Enquanto Orlando Silva prestava esclarecimentos a ambas as Casas legislativas do Congresso Nacional, os partidos de oposição receberam oficiosamente, em evento separado, o policial-delator, que imediatamente foi guindado à condição de “pop star” da vez.

O ucho.info alertou para o perigo de se dar notoriedade a alguém que está envolvido no esquema criminoso e responde a processo decorrente das transgressões, mas a oposição preferiu apostar todas as fichas no caso, como se o Palácio do Planalto desconhecesse por completo a fragilidade das declarações de Dias Ferreira. Não se trata de defender a prática da corrupção e blindar corruptos e corruptores, mas é preciso que determinados grupos políticos se dediquem ao que em países supostamente civilizados é conhecido como oposição republicana.

Ao dar crédito e importância exacerbada ao policial João Dias Ferreira, os partidos de oposição perderam a chance de investigar um eventual esquema de corrupção, que por conta do alarde dos últimos dias dormita no submundo do poder como se estivesse sob o efeito de catalepsia. Ademais, os oposicionistas precisam aprender, com certa urgência, que pirotecnia serve apenas e tão somente como um afago ao projeto de ditadura civil que alguns tentam implantar no Brasil.

Escaldados desde os tempos em que engrossavam o coro dos adversários do poder, os situacionistas de agora estão decididos a deixar a oposição morrer abraçada ao delator que prometeu muito e entregou pouco.