Dia da Poupança deveria ser lembrado diariamente

(*) Álvaro Modernell –

Em 31 de outubro comemora-se o Dia da Poupança. A data foi estabelecida em 1924, durante um congresso internacional de economia na Itália. No Brasil, foi instituída a partir de 1933.

Mas essa história de Dia da Poupança soa mal, assim como o Dia da Mulher, da Árvore, da Criança, do Professor… Se fosse apenas para homenagear esses ícones da sociedade, até seria interessante, mas o histórico da criação dessas datas não revela isso. Durante décadas, elas serviram como um dia de compensação, para que fossem reverenciadas simbolicamente, um entre 365 dias, e ficasse tudo bem. Nos demais, ficavam à margem, esquecidos, arrastadas pelo dia-a-dia, sem atenção.

Felizmente a natureza e os professores já têm mais reconhecimento, pelo menos. E mulheres e crianças, até pouco tempo tratadas como de segunda classe, com menos direitos, já não são mais símbolos de um único dia. Conquistaram igualdade, espaços, cidadania. Mas o mesmo não aconteceu com a poupança.

Será por que o Dia da Poupança ainda é desconhecido? Será que os gritos dos excluídos, um único dia por ano, ao longo de tantos, ajudou nas conquistas? Ou será que a poupança não ganha espaços por que não interessa às classes dominantes da publicidade, do consumo, da política e da economia?

Comércio e indústria têm, muitas vezes, visão de curto prazo. Instigam o consumo imediato. O sistema financeiro, que poderia estimular a poupança, compara ganhos com a venda de produtos de crédito e não resta dúvidas onde ganha mais. Governos, entram e saem, privilegiam ações de curto prazo, que mostrem resultado antes das próximas eleições, como as que refletem aquecimento momentâneo da economia e ajudem nas pesquisas de popularidade.

E onde entra a poupança? Quem poderia lutar por ela?

Não há dúvidas de que a poupança é um dos pilares da prosperidade, base da riqueza e alicerce para a estabilidade financeira. Assim, governos com visão de Estado, pessoas com visão de futuro, instituições com metas de relacionamentos duradouros deveriam privilegiar e estimular a formação de poupança.

Ações de educação financeira crescem e espalham essa semente. Mas as de educação previdenciária serão as mais efetivas nessa seara. Com forte apoio da PREVIC, os fundos de pensão e fundações de previdência vêm investindo no esclarecimento e na educação da população. E têm força. Possuem ativos que equivalem a um sexto do PIB nacional, mas uma lástima que representam menos de 4% da população. Em compensação, são as mais genuínas instituições com visão de longo prazo. Não raro fazem projeções e investimento visando mais de 30, 40, 50 anos, cuja base é a formação gradual e contínua de poupança, de investimentos duradouros, de estabilidade dos fluxos financeiros.

Assim, deveriam pensar as famílias, as pessoas. Se todos nós poupássemos sempre uma parte dos ganhos, juntássemos reservas para o futuro, criássemos nossas próprias fontes de financiamento para consumo, sonhos e necessidades, certamente teríamos menos problemas financeiros, menos estresse, menos preocupações, menos desgastes, menos doenças. E com mais saúde, mais disposição, mais energia, mais realizações, seríamos mais felizes. Tudo graças a um bom hábito que anda esquecido: o de poupar.

Salve 31 de outubro, Dia da Poupança. Que todos os dias lembremo-nos dele. Que todos os dias sejam transformados em dias de poupança para que possamos sempre consumir de maneira consciente e responsável também com nosso bolso.

(*) Álvaro Modernell é especialista em educação financeira e previdenciária, palestrante, autor de vários livros, projetos, cartilhas e artigos sobre educação financeira, além de sócio fundador da Mais Ativos Educação Financeira e coordenador do portal www.edufinanceira.com.br, referência nacional na área.