Brasil tornou-se refém das denúncias, muitas delas esculpidas com o cinzel da briga pelo poder

Mais em cima – A briga pelo poder é algo tão sórdido, que só mesmo os que conhecem as entranhas do mundo político são capazes de avaliar a queda de braços travada diuturnamente. Quem está no poder não quer sair, enquanto quem lá esteve sonha em voltar. Eis o binômio que alimenta a enxurrada de denúncias de corrupção, muitas delas verdadeiras.

Quando o governo de Luiz Inácio da Silva adotou a prática de cooptação de parlamentares que ficou conhecida como “Mensalão do PT”, muitos foram os palacianos contrários à ideia, pois o melhor seria, para a implantação de uma ditadura civil, deixar que os partidos da chamada base aliada se lambuzassem no mundo da corrupção, promovendo transgressões das mais variadas em ministérios, autarquias e outros cargos. A tese do “mensalão” prosperou e terminou com a lambança que todos conhecem.

Com o fim das mesadas pagas em troca de obediência política no Congresso Nacional, o Palácio do Planalto adotou o fatiamento da máquina estatal como forma de garantir a aprovação, sem muito esforço, das matérias de seu interesse. Assim foi criada a ditadura da corrupção, na qual supostos representantes do povo deixam de fazer política verdadeiramente e se ajoelham em troca de dinheiro imundo e impunidade.

Nenhum partido que conquistou seu quinhão na Esplanada dos Ministérios participa do governo federal por ideologia, patriotismo ou diletantismo. Nem mesmo por questões político-partidárias as legendas indicam seus filiados para cargos de destaque. O fazem de olho nos negócios. Sejam lícitos ou ilícitos, diretos ou indiretos. Nessa lufada de banditismo estão sete entre dez indicados a posições importantes na máquina estatal.

Como sempre afirmamos, política é um negócio milionário e dos bons, mas exclusividade de uma ínfima minoria, se considerada a vasta população brasileira, que já mira a casa dos 200 milhões de pessoas. O melhor exemplo disso é o custo de qualquer campanha eleitoral. Candidatos investem verdadeiras fortunas em três meses de campanha para, se eleitos, receberem em quatro anos de mandato 15% do valor investido. E como o ilusionismo é resultado da habilidade, o que sobra na política é mágico.

Enquanto seguidas denúncias na imprensa fazem sangrar o governo de Dilma Rousseff, que transferiu a tarefa de demitir os encrencados para Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência, o governador do Distrito Federal é alvo de nova onda de acusações. Depois de ter seu nome envolvido no escândalo do Ministério do Esporte, que culminou com a queda do comunista Orlando Silva Jr,. o governador do DF agora é acusado de ter recebido R$ 5 mil de um ex-funcionário de laboratório farmacêutico. Segundo as denúncias, Queiroz recebera o dinheiro, em conta bancária, no período em que comandou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

É bom que se saiba que a denúncia, com idas e vindas, é no mínimo suspeita, pois, a exemplo do que foi citado acima, um grupo que está afastado do poder articula com antecedência a tentativa de retornar ao Palácio Buriti, sede do Executivo do Distrito Federal. Imaginar que é possível conseguir-se algo extraordinário em Brasília com R$ 5 mil é no mínimo um misto de inocência e irresponsabilidade. Com esse dinheiro não se corrompe nem mesmo o motorista de uma autoridade.

Não se trata de defender Agnelo Queiroz ou quem quer que seja, mas de dar a importância devida às denúncias que pululam do Oiapoque ao Chuí, sem descanso. Algumas denúncias de fato merecem atenção e investigação, mas outras servem apenas para transferir o olhar da probidade para outro foco. Até porque, uma denúncia rasteira serve apenas e tão somente para salvar o acusador. Sempre lembrando que a política, em qualquer parte do planeta, não é uma reunião de monges tibetanos.