Rocinha: parte da imprensa exalta sucesso de operação que não saiu do primeiro capítulo

Cartas marcadas – Aconteceu o que era previsto. Depois da ocupação das favelas da Rocinha, do Vidigal e Chácara do Céu, na Zona Sul do Rio de Janeiro, os envolvidos na operação policial invadiram os veículos de comunicação do País, como se a batalha contra o crime organizado estivesse encerrada. Na verdade, como antecipou o ucho.info na edição especial de domingo (13), o grande problema a ser enfrentado pelo governo fluminense de agora em diante é devolver a garantia de sobrevivência aos moradores desses locais.

A exemplo de outras comunidades, os moradores das favelas ocupadas contavam com a colaboração financeira dos traficantes. No caso da Rocinha, por exemplo, o traficante Antônio Bonfim Lopes, o “Nem”, preso na semana passada, ajudava os endividados a pagar contas, proporcionava viagens, distribuía alimentos e contribuía financeiramente com as creches locais, entre outras benesses (sic). Como contrapartida queria liberdade para conduzir seu milionário negócio, o que deve continuar acontecendo de dentro da prisão, pois os valores envolvidos no tráfico são estratosféricos.

Secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, o delegado federal José Mariano Beltrame participou na manhã desta segunda-feira (14) do telejornal “Bom Dia Brasil”, da Rede Globo. No noticioso platinado Beltrame disse o que os leitores do ucho.info há muito sabiam. Que os chefões do tráfico simplesmente mudaram de endereço e que o comércio de drogas, como acontece em milhares de cidades ao redor do planeta, continuará existindo nas favelas da Rocinha, do Vidigal e Chácara do Céu, operado pelo segundo escalão do negócio, cujos integrantes continuam nas áreas ocupadas.

Entre tantas declarações, o gaúcho Beltrame disse que o traficante “Nem”, através de depoimento, poderá esclarecer a estrutura de corrupção instalada em parte das polícias civil e militar do Rio de Janeiro. É importante salientar que de nada adianta ocupar comunidades carentes, expulsando criminosos, se os policiais envolvidos no processo de pacificação não forem remunerados adequadamente. Principalmente porque o poderio financeiro do tráfico, aliado a uma nada ortodoxa contabilidade, faz a diferença e supre as necessidades geradas pela ausência do Estado.