“A Pele que Habito”: Almodóvar se revela um excelente contador de histórias em enredo corajoso e surpreendente

(*) Ucho Haddad –

Tudo o que tem começo, meio e fim, exceto o amor, tende a dar certo. Porém, na história profissional do cineasta espanhol Pedro Almodóvar o sucesso não segue essa sequência lógica. Em seu mais novo filme, “A Pele Que Habito”, Almodóvar reforça a sua indiscutível capacidade de contar histórias.

Em quase quatro décadas de carreira, Pedro Almodóvar levou às telas do cinema obras primordiais, como “Fale com Ela”, “Volver”, “Ata-me!” e “Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos”. Agora, em “A Pele que Habito”, estrelado por ninguém menos que Antonio Banderas, o cineasta espanhol abusa da imaginação e foge dos temas que marcaram suas produções anteriores. Almodóvar retrata uma história tão estranha quanto valente, mas que leva ao menos nove entre dez espectadores à reflexão.

Abusando de um vai e vem interessante na linha do tempo, Almodóvar mostra a saga do cirurgião plástico Robert, personagem vivido por Banderas, que quase esconde em sua casa, batizada de El Cigarral, um curioso psicótico experimento científico. Vera (Elena Anaya) é o objeto de trabalho de Robert, que está em processo da construção de uma pele mais resistente e que será implantada na moça que aparenta ser uma sobrevivente de alguma tragédia, mas que somente ao final terá sua verdadeira identidade revelada. Robert nega que tenha tentado transferir ao seu experimento traços físicos semelhantes ao de sua ex-mulher, que morreu por causa das queimaduras decorrentes de um acidente automobilístico. Qualquer detalhe a mais comprometeria toda a história criada por Almodóvar, que deve ser contemplada com a atenção que todas as suas obras merecem.