Receita indigesta – Ao logo de séculos, a política conseguiu a proeza de ser confundida com corrupção e vice-versa. Mesmo assim, os eleitores, na hora do voto, são acometidos por uma lufada de amnésia e acabam elegendo aqueles que prometeram muito, mas que em seguida se envolverão em escândalos. Ou seja, os eleitores escolhem como representantes aqueles que mentiram descaradamente durante a campanha.
No timão de um governo que até agora teve sete ministros demitidos, sendo seis deles por suspeita de envolvimento em casos de corrupção, a presidente Dilma Rousseff titubeia diante do caso do titular do Trabalho, o pedetista Carlos Lupi, que sob a desculpa da memória fraca admitiu para o país que é um adepto confesso da mitomania. Lupi, que negou ter voado em um jato particular, admitiu, na quinta-feira (17), durante depoimento no Senado Federal, que usou um avião locado por dirigente de ONG que mantém convênios com o Ministério do Trabalho.
Em um país minimamente sério, presidido por alguém com doses rasas de responsabilidade, Carlos Lupi já estaria demitido. O pedetista dificilmente voltaria à velha banca de jornais, pois, em algum momento, teria de enfrentar a revista Veja, que inaugurou as denúncias contra ele. No Japão, por exemplo, políticos flagrados em casos de corrupção se suicidam diante das câmeras de televisão.
Amedrontada pelo racha que domina o PDT, a presidente Dilma preferiu dar sobrevida de mais algumas semanas a Carlos Lupi, mesmo sabendo que o ministro não conseguiu explicar o inexplicável. O Palácio do Planalto conta com a aproximação das comemorações de final de ano, período em que os políticos desparecem de Brasília e os cidadãos mergulham nas compras de Natal, para adiar a substituição de Lupi.
Vários integrantes do PDT defendem a saída não apenas de Lupi, mas a do próprio partido. Tal decisão, se confirmada, poderá inaugurar uma onda de deserção na base aliada, comprometendo a votação das matérias de interesse do governo.
Como já afirmamos em matéria anterior, a corrupção é um tumor incrustado no Estado e sem condições imediatas de ser removido, pois do contrário o paciente morre de maneira súbita. O loteamento dos ministérios surgiu como forma de substituir o “Mensalão do PT”, escândalo de cooptação de parlamentares através do pagamento de mesadas. Acontece que o Mensalão acabou transferindo a responsabilidade pela corrupção aos donos do poder, nesse caso o Partido dos Trabalhadores, ao passo que o loteamento ministerial deixa o problema para as legendas agraciadas com cargos.