Exagero na dose – A busca por holofotes para certos políticos configura-se em apelo marqueteiro utilizado quando o parlamentar cai no esquecimento da mídia. O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) vem ciclicamente utilizando a estratégia. Na manhã de quinta-feira (24), da tribuna da Câmara, ao protestar contra a campanha elaborada pelo governo para combater o preconceito contra homossexuais nas escolas, em especial a divulgação de um “kit anti-homofobia” produzido pelo Ministério da Educação, Bolsonaro afirmou que a presidente Dilma Rousseff deveria logo “assumir” se o seu negócio é “amor com homossexual”.
“São 180 itens. O kit gay não foi sepultado ainda. Dilma Rousseff, pare de mentir! Se gosta de homossexual, assuma! Se o seu negócio é amor com homossexual, assuma, mas não deixe que essa covardia entre nas escolas do primeiro grau! Tudo o que foi tratado ontem foi com a temática LGVT para os livros escolares. Criam aqui bolsa de estudo para jovem LGVT, estágio remunerado para lésbicas, gays, bissexuais etc.!” , disparou.
E prosseguiu em sua falação, “então, pessoal, é o presente de Natal que a Dilma Rousseff está propondo para as famílias pobres do Brasil. Ou seja, o dia em que a maioria da garotada nas escolas for homossexual, está resolvido o assunto… Será que o Haddad (ministro da Educação), como prefeito de São Paulo, vai implementar a cadeira de homossexualismo nas escolas do 1º Grau?”.
Como é do seu feitio, Bolsonaro negou ter feito questionamento sobre a sexualidade da presidente. Ele explica que quis dizer que ela “tinha um caso de amor com a causa homossexual”.
“Quem sou eu para questionar a sexualidade dela? Não me interessa a opção dela, desde que seja com discrição”, afirmou, reiterando que isso tem um lado positivo por trazer a polêmica sobre o kit gay à tona.
Repercussão
Alfredo Sirkis (PV-RJ), que discursaria logo em seguida, reclamou da fala de Bolsonaro e disse que ela configurava quebra de decoro parlamentar. “Eu acho que é admissível se debater se tal ou qual peça didática é correta ou não do ponto de vista didático, mas o que nós ouvimos aqui hoje foi novamente um discurso de ódio, de preconceito, um discurso inclusive que, se eu entendi direito, faltou com o decoro parlamentar ao fazer insinuações a respeito da própria Presidente da República, quando eu acho que a opção sexual de qualquer ser humano, Deputado, é uma questão de foro íntimo desse mesmo ser”, afirmou.
O deputado Marcon (PT-RS) foi o responsável por pedir oficialmente que as notas taquigráficas do discurso de Bolsonaro fossem retiradas do site da Câmara. O que aconteceu logo em seguida por determinação de Domingos Dutra (MA), petista que presidia a sessão.
Segundo o setor de taquigrafia da Casa, o pedido de retirada de qualquer discurso é legítimo. O caso agora será encaminhado ao presidente Marco Maia (PT-RS), que decidirá se a fala de Bolsonaro permanecerá fora do ar.
Já a senadora Marta Suplicy (PT-SP) pediu ao presidente da Câmara que tome providências para punir o deputado por falta de decoro parlamentar. “Como mulher, como cidadã, como mãe, como senadora, como vice-presidente desta Casa, pedimos ao presidente da Câmara, deputado Maia, que tome enérgicas providências e limites, porque está sem um freio de arrumação. Sinto muito, a falta de decoro parlamentar desse deputado tem ofendido cidadãos comuns e agora até mesmo a Presidente da República”, disse Marta.
Suplicy ressaltou que a falta de decoro de Bolsonaro não foi por dizer que a presidente Dilma possa ser homossexual, mas sim por fazer insinuações a respeito da sexualidade da própria presidente da República, quando a opção sexual de qualquer ser humano é uma questão de foro íntimo. Pelo Twitter, a senadora disse ainda que Bolsonaro pode ter cometido crime de injúria pela afirmação. Com informações da Folha online.