Contudo, a boa intenção da dupla foi por terra quando, no final do dia, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s anunciou que colocaria sob perspectiva de risco a nota de quinze economias da chamada zona do euro, grupo de dezessete países que adotaram moeda única. E entre os que entraram na mira da agência estão a França e a Alemanha, que têm classificação “AAA”. A revisão das notas deve acontecer dias depois do encerramento da reunião de cúpula da União Europeia, que acontece nos próximos dias 8 e 9 de dezembro. A Standard & Poor’s informou que “os ratings podem ser rebaixados em até um grau nos casos de Áustria, Bélgica, Finlândia, Alemanha, Holanda e Luxemburgo e até dois graus no caso dos demais governos”.
Pode parecer estranho o fato de a Alemanha estar no centro do turbilhão, mas isso se explica pelo fato de a economia alemã ser uma das âncoras da União Europeia. Com uma dívida que representa 84% do Produto Interno Bruto, a Alemanha não quer pagar a conta sozinha. Dependente das exportações, o país não quer ver a sua moeda valorizada, numa eventual retomada do marco.
Os franceses, por sua vez, também descontentes com os rumos da estabilidade econômica do bloco, já cogitam o retorno do franco como moeda oficial. Se isso acontecer, o que de chofre é tecnicamente difícil, a Europa será dragada por uma crise que atravessará os mares e aportará em países até então economicamente sólidos, como é o caso da China, que já registra recuos. Nesse cenário o Brasil será afetado ainda mais, mesmo que sua dependência do consumo interno seja maior que das exportações.
O impasse a que chegou a União Europeia mostra a dificuldade de se formar um bloco com países cujas culturas econômicas são distintas. Sem contar as diferentes correntes políticas abrigadas sob o mesmo teto. Esse processo começou com a criação do Mercado Comum Europeu nos anos 50 e ganhou força a partir do final dos anos 70. À época, os países integrantes do MCE passaram a contar com a queda das fronteiras alfandegárias para comercializar seus produtos regionalmente, o que impulsionava cada uma das economias locais. Rebatizado de Comunidade Econômica Europeia (CEE), o velho MCE transformou-se em União Europeia a partir da assinatura do Tratado de Maastrich, em 7 de fevereiro de 1992, pelos dozes primeiros países signatários da CEE (Alemanha, França, Espanha, Itália, Bélgica, Portugal, Grécia, Luxemburgo, Países Baixos, Reino Unido, Irlanda e Dinamarca).
A crítica situação da União Europeia provocará não apenas consequências econômicas, mas também e principalmente políticas, uma vez que a sucessão no comando de alguns países não fugirá ao cronograma pré-estabelecido. E é nos momentos de crise que o radicalismo político ganha força com promessas tão mentirosas quanto impossíveis.