Sem “marca”, primeiro ano de Dilma será lembrado apenas por trocas de ministros

Catapulta de aliados – O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, fez nesta terça-feira (13) uma avaliação de 2011 e falou das perspectivas do setor produtivo para 2012. Skaf chamou atenção para o fato de o primeiro ano de governo da presidente Dilma não ter “uma marca” que vá além das trocas de ministros e ter ficado “marcando o passo” durante o ano. As declarações foram dadas em entrevista coletiva de final de ano na sede da Fiesp, em São Paulo.

“Não avançamos pra valer em 2011. Espero que 2012 seja diferente”, afirmou o presidente da Fiesp depois que três dos diretores da entidade fizeram suas apresentações a respeito de áreas como Competitividade, Macroeconomia e Infraestrutura. A entidade espera um crescimento de 1,5% para a indústria de transformação em 2012, que deve fechar 2011 com evolução de 0,9%.

Cenário macro

Ao analisar o cenário macroeconômico nacional, Skaf lembrou os alertas que a Fiesp fez durante todo ano a respeito da perda de competitividade da indústria, fato que se confirmou agora nas últimas pesquisas divulgadas tanto pela Fiesp quanto pelo IBGE.

“Aconteceu o que nós prevíamos. Foi um erro subir os juros e esfriar a economia no primeiro semestre deste ano. Agora o governo está baixando os juros e correndo atrás do prejuízo, mas sabemos que os efeitos dessas medidas levam seis meses pra serem sentidos”, diz.

O presidente afirmou que não adianta o industrial brasileiro se equipar, investir em tecnologia, treinamento de mão-de-obra e manter-se competitivo da porta da fábrica para dentro se o país não dá condições mínimas de competição com o produto importado.

“Temos um câmbio que nos faz exportar empregos, uma carga tributária elevada e injusta, juros altos, infraestrutura deficiente, custos de energia que estão entre os maiores do mundo e ainda vemos estados concederem incentivos fiscais a produtos importados por meio da guerra dos portos. O que temos a comemorar?, questionou.

Números

O diretor do Departamento de Pesquisa e Estudos Econômicos da entidade, Paulo Francini, projetou a trajetória do PIB do Brasil: crescimento de 2,8% em 2011 e 2,6% em 2012. Segundo Francini, apesar da expectativa estar bem abaixo do que foi projetado inicialmente pelo governo (4,5%), esse crescimento de 2,6% pode não ser tão ruim, considerado o cenário internacional de incertezas e grandes dificuldade na Europa e nos Estados Unidos.

O diretor projeta que o mundo deve crescer 2,6% este ano e 2,1% no ano que vem, enquanto a China sairá de um crescimento de 9,1% para 8,2%, em 2012. A Zona do Euro deve decrescer de 1,5% para -0,3% e EUA caem de 1,7% para 1,3%.

Durante sua exposição, José Ricardo Roriz Coelho, diretor titular do Departamento de Competitividade e Tecnologia, mostrou o quanto o serviço da dívida pública consome do orçamento nacional. “De tudo o que se arrecada no país, 15,8% vai para o pagamento de juros. Isso representa 5,3% do PIB. Só neste ano, por volta de R$ 237 bilhões serão gastos no pagamento de juros da dívida pública federal”, afirmou.

Energia

Assunto recorrente na agenda do setor produtivo brasileiro, o custo de energia no Brasil também foi alvo das críticas do presidente da Fiesp. Ele lembrou que no último dia 18 de novembro, o Tribunal de Contas da União deu prazo de 60 dias para que o Governo Federal tome uma decisão sobre os leilões dos ativos de energia elétrica que vencem a partir de 2015. “É só cumprir a lei. Não é justo que paguemos pela terceira vez por amortizações de investimentos que já foram amortizados”, afirma.

“Até se faltar parte de amortização de algum ativo, temos o RGR (Reserva Global de Reversão) que pagamos todos os meses na conta de luz e que vai acumular R$ 30 bilhões em 2015. O RGR serve justamente para cobrir esses custos. O dinheiro é suficiente”, afirmou.

Ele criticou ainda o preço do gás para a Indústria, que vai subir por volta de 10%. “Nos EUA, o gás para a Indústria custa 1/3 do nosso. Como é possível competir com esses custos?”

Guerra dos Portos

Adiada para 2012, a Resolução 72, do Senado Federal, não tem data para ser votada. Isso significa que as isenções de ICMS concedidas por alguns estados a produtos estrangeiros que entram no país por seus portos vai continuar acontecendo. Pela resolução, o imposto deixaria de ser cobrado na origem e passaria a ser cobrado no destino, deixando 4% para o estado de origem, para não desestimular a fiscalização.

Para o presidente Paulo Skaf, se a resolução fosse votada e aprovada este ano, como foi inicialmente prometido, 60% da reforma tributária estaria resolvida. “Não sou a favor de guerra fiscal alguma, mas enquanto acontece entre estados brasileiros ela é menos prejudicial. Mas quando um estado oferece benefícios para outro país, aí estamos diante de uma extravagância. Isso é muito negativo para o Brasil porque leva empregos dos brasileiros para outros países”, concluiu.