Queda de outro assessor de Mario Negromonte sinaliza inevitável vacância no Ministério das Cidades

Dança de cadeiras – O Partido Progressista, que integra a base de apoio ao governo no Congresso, assiste silenciosamente às mudanças que o Palácio do Planalto vem promovendo no Ministério das Cidades, ainda sob o comando do deputado federal licenciado Mario Negromonte, da Bahia. O ministro, que com a decisão de Dilma de suspender a reforma ministerial, imaginou que continuaria no cargo, pode pedir demissão a qualquer momento.

Depois de ver seu chefe de gabinete, Cássio Peixoto, ser defenestrado na última semana por ordem de Dilma Rousseff, o ministro das Cidades foi surpreendido nesta segunda-feira (30) com o Diário Oficial da União, que trouxe a publicação da exoneração de João Ubaldo Dantas, amigo de Negromonte e chefe da assessoria parlamentar do Ministério das Cidades. A demissão, que não foi a pedido, aumentou os rumores sobre a saída do ministro. Outro que em breve deve deixar o Ministério das Cidades é Roberto Muniz, secretário-executivo da pasta e ligado a Negromonte.

A situação de Peixoto e Dantas tornou-se difícil e complicada depois da notícia de que ambos teriam participado de encontro com um lobista e um empresário do ramo de informática, interessados em polpudo contrato para reequipar o Ministério das Cidades. Se esse tipo de procedimento, que os acusados negam ter envolvimento, é sinônimo de demissão sumária, a Esplanada do Ministério corre o sério risco de enfrentar um numeroso esvaziamento de pessoal.

Depois do escândalo de corrupção que ficou nacionalmente conhecido como “Mensalão do PT”, o então presidente Luiz Inácio da Silva decidiu mudar a forma de recompensar a genuflexão dos partidos da base aliada no Congresso. Ao invés de pagar mesadas aos parlamentares, o Palácio do Planalto passou a entregar às legendas alguns ministérios, com a condição de que os palacianos ficariam de olhos fechados. O esquema criminoso funcionou à sombra da suspeita popularidade de Lula, até que Dilma Rousseff, instalada na Presidência, não soube lidar com o tema.

A limpeza no Ministério das Cidades, cujas demissões foram assinadas pela ministra Gleisi Hoffmann, não significa que a pasta momentos de calmaria. Muito além das decisões do núcleo duro do governo, Mario Negromonte há muito é o alvo principal de uma rebelião interna no PP, comandada pelo grupo dos senadores Ciro Nogueira (PI) e Benedito de Lira (AL). Recentemente, a reboque de manobra rasteira, a dupla de senadores conseguiu apear o deputado paranaense Nelson Meurer (PR) da liderança do partido na Câmara. Em seu lugar assumiu o paraibano Aguinaldo Ribeiro, cotado para substituir Negromonte.

Enquanto isso, a direção nacional do Partido Progressista enviou ao Palácio do Planalto com sugestão de nomes para a eventual substituição de Mario Negromonte. Do rol constam a deputada federal Rebecca Garcia (AM), o deputado federal Márcio Reinaldo (MG) e os senadores Benedito de Lira e Ciro Nogueira. Por fora corre o ex-ministro das Cidades, Márcio Fortes, que por indicação de Dilma preside a Autoridade Pública Olímpica.

A intifada do PP tem detalhes curiosos. Com a anuência do presidente da legenda, senador Francisco Dornelles (RJ), o partido tem funcionado também a partir das articulações de Ciro Nogueira, que precisa ser ministro por duas razões. A primeira está diretamente relacionada às eleições de 2014, quando Ciro pretende disputar o governo do Piauí. E como titular da pasta das Cidades sua visibilidade política seria bem maior do que a de senador. O segundo motivo, o mais premente deles, é que um possível convite para Ciro assumir o ministério abriria vaga no Senado, a ser ocupada pelo milionário piauiense João Claudino, dono de um dos grupos empresariais mais poderosos do Nordeste e pai do senador João Vicente Claudino (PTB-PI). João Claudino, o pai, despejou muito dinheiro na campanha de Ciro Nogueira, em 2010, com a promessa de em algum momento assumir o mandato de senador, mesmo que temporariamente.

Ao lado de Ciro Nogueira, mas também de olho no Ministério das Cidades, está o alagoano Benedito de Lira. Acontece que a chegada de um deles à Esplanada dos Ministérios pode ser comprometida com a revelação das entranhas de um escândalo envolvendo uma autarquia federal na cidade de Belo Horizonte. Na autorização concedida para a realização de um milionário negócio na capital mineira, o diretor do capítulo mineiro da autarquia teria ido além dos seus poderes, possivelmente pressionado pelos interesses partidários.

Entre os nomes apresentados ao Palácio do Planalto pelo PP, o da deputada federal Rebecca Garcia (AM) é o mais qualificado para assumir a pasta. De rica e conhecida família de Manaus, Rebecca Garcia disse certa vez, em entrevista ao ucho.info, “não preciso da política para viver”. Com estudos de Economia na Boston University, além de Cinema em outra universidade norte-americana, a preparada Rebecca Garcia afirmou que “falta profissionalismo na política brasileira”. Se for escolhida pela presidente Dilma Rousseff para assumir a pasta das Cidades e aceitar o convite, a manauara Rebecca terá de desistir de seus planos políticos, que incluem disputar em outubro deste ano a prefeitura da capital do Amazonas.