Avanço da desindustrialização preocupa e deve criar dificuldades para a economia do País

Radiografia da verdade – Quando ocupou a Secretaria de Assuntos Estratégicos, cujo nome foi mudado em seguida para Secretaria de Planejamento de Longo Prazo (Sealopra), Roberto Mangabeira Unger – o ácido crítico de Lula que aceitou o convite para integrar o governo petista – se debruçou sobre um tema que, à época, o ucho.info cumpriu com a obrigação de alertar os leitores: o processo de desindustrialização que começava a ganhar força no Brasil.

Na ocasião, ocupados com a tarefa de lançar às alturas a bolha de virtuosismo que foi vendida aos incautos de todo o planeta, Lula e seus assessores não deram a devida atenção à preocupação do então ministro. Mangabeira Unger deixou o governo do ex-metalúrgico e o assunto foi deixado em plano inferior.

Anos depois, focado na campanha para eleger sua sucessora, Lula tratou de impedir que a verdade alcançasse os palanques, mantendo em erro os eleitores que continuavam acreditando que o Brasil havia entrado nos trilhos da prosperidade. Muito antes da campanha presidencial de 2010, este site chamou a atenção para o fato de que o Brasil avançava a passos largos na direção do status de país da prestação de serviços.

Prova maior está nos dados divulgados pelo IBGE na terça-feira (31), que apontam para um crescimento de 0,3% da produção industrial brasileira em 2011, número desanimador se considerados os 10,5% de expansão do setor em 2010. O resultado ficou dentro da previsão dos analistas, mas não deixa de ser extremamente preocupante.

Em outro vértice do cenário, um levantamento realizado pelo Dieese-Seade mostra que a taxa média de desemprego no Brasil recuou de 11,9% em 2010 para 10,5% em 2011. De janeiro a dezembro do ano passado, 407 mil novos postos de trabalho foram criados, o que reduziu o contingente de desempregados para 2,32 milhões de pessoas. Analisado de forma pontual, o principal dado da pesquisa pode levar a comemorações precipitadas. Entre os setores pesquisados, o que contratou mais em 2011 foi o de serviços, com a criação de 272 mil novas vagas. A indústria, por sua vez, criou 33 mil postos de trabalho, enquanto o setor do comércio abriu 73 mil novos postos. A construção civil registrou a geração de 65 mil novos empregos.

Quando comparados os números de empregos criados pela indústria com os do setor de serviços, fica evidente o processo de desindustrialização do País, algo que deveria despertar a preocupação dos governantes. O governo federal finge desconhecer a possibilidade de demissões na indústria nos próximos meses, mas esse é um dado que o setor antecipou no segundo semestre de 2011.

Para complicar ainda mais o quadro nada confortante, a inflação, legado maldito de Lula, continua sendo a maior preocupação dos brasileiros, segundo os resultados de pesquisa divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) na segunda-feira (30). O levantamento, que mede a expectativa dos brasileiros em relação à economia, mostra que 54% dos entrevistados apostam na alta da inflação nos próximos seis meses, enquanto outros 15% afirmam que os preços devem disparar.

Com a inflação, dois setores da economia sofrem. A indústria, que encontra dificuldades na hora de produzir, e o comércio, que vê o encolhimento das vendas por causa da elevação do preço das mercadorias. Em outras palavras, um círculo vicioso no melhor estilo “cachorro correndo atrás do próprio rabo”.

Sem nenhum rompante de criatividade, a presidente Dilma Rousseff emprestou de seu antecessor a estratégia furada de apostar todas as fichas no consumo interno, como forma de minimizar os efeitos da crise internacional que tem a Europa como nascedouro. No final de 2008, Lula fez o mesmo para reduzir as reticências da crise advinda do “subprime” norte-americano, que do petista recebeu o nome galhofeiro de “marolinha”.

Apostar no consumo interno é uma decisão que precisa vir acompanhada de bom senso, pois não se pode, em tão curto espaço de tempo, arremessar a sociedade pela segunda vez na vala do consumismo, movimento que, por conta dos apelos do histriônico Lula, gerou endividamento recorde das famílias brasileiras e crescimento preocupante da inadimplência. Com medo de um futuro incerto, o mercado financeiro majorou o custo do dinheiro para o reles cidadão e endureceu as regras dos financiamentos. Em outras palavras, comprar a prazo está mais caro e mais difícil. Com o dólar em baixa, os produtos importados continuam fazendo a alegria dos consumidores dessa destrambelhada Terra de Macunaíma.

Mesmo assim, a presidente Dilma Vana Rousseff, que herdou de Lula algumas pílulas de falso messianismo, continua acreditando que este será um ano de prosperidade e oportunidades.