Coerência zero – A esquerda brasileira está rasgando o discurso do passado e perdendo a essência ideológica, processo que teve início na campanha presidencial de 2002, quando Luiz Inácio da Silva, após três fracassadas tentativas, conquistou o direito de ocupar o Palácio do Planalto. De lá para cá, a esquerda verde-loura vem passando por processo de mutação de fazer inveja a qualquer camaleão.
Nos tempos de ruidosa e ácida oposição, o PT, mais especificamente, não apenas criticava os banqueiros, mas defendia a estatização dos bancos. Entre os tantos protestos contra o capital privado, os petistas sempre surfaram no bordão “Fora FMI”. Depois que Lula experimentou as benesses do poder, todas elas patrocinadas pelo capitalismo, o PT mostrou que ser direitista é a sua vocação.
Na terça-feira (7), o Banco Itaú divulgou os resultados de 2011, que apontaram para um lucro de R$ 14,6 bilhões, alta de 9,7% em comparação com o ano anterior. O Santander registrou no ano passado lucro líquido de R$ 7,755 bilhões em 2011, 5,1% a mais do que em 2010. O Bradesco, por sua vez, auferiu em 2011 lucro líquido de R$ 11,028 bilhões, um aumento de 10% em relação ao período anterior. Até o presente momento, nenhum petista ousou contestar o lucro dos bancos, que faturaram como “nunca antes na história deste país”.
Avessos às privatizações, a ponto de usarem o tema contra os adversários nas eleições presidenciais, os petistas agora comemoram a privatização de três dos principais aeroportos brasileiros: Guarulhos, Viracopos (Campinas) e Brasília. E de novo os petistas não ressuscitaram os discursos do passado de oposição.
Se algumas qualidades são imprescindíveis ao ser humano, a coerência está entre as mais importantes. Exigir coerência na seara política é a mais hercúlea das tarefas, mas a desfaçatez que recobre o PT chega a assustar.