Morre em São Paulo, vítima de câncer, a empresária Eliana Tranchesi, da Daslu

Minuto de silêncio – Morreu na madrugada desta sexta-feira (24), aos 56 anos, a empresária Eliana Piva de Albuquerque Tranchesi, dona da butique Daslu, espécie de Meca do consumo de nove entre dez poderosos e descolados do País.

Internada no Hospital Albert Einstein, na Zona Sul da capital paulista, Eliana Tranchesi não resistiu às complicações de um câncer de pulmão, descoberto em 2006 e que a afastou do comando dos negócios. Por ocasião do diagnóstico, a empresária disse que “a crise da Daslu e mais o câncer me fizeram sentir como se eu fosse uma criança deixando abruptamente a Disney. Até então, eu imaginava a vida como uma grande brincadeira (…). A Daslu é a Disney, onde tudo é lindo, as vendedoras são lindas, o cabelo é lindo, a roupa é linda, é tudo bonito. É tudo agradável. Então, de repente, você sai desse mundo da Disney e cai lá dentro do [hospital Albert] Einstein já com um monte de pacientes com câncer”.

A Daslu surgiu em uma sala da casa de Eliana Tranchesi, a partir de sociedade informal entre sua mãe, Lucia Piva, e uma amiga, Lourdes Aranha, ambas conhecidas como “Lu”, o que deu origem ao nome da loja. Inicialmente instalada em um imóvel do elegante bairro de Vila Nova Conceição, a Daslu acabou crescendo e ocupando outras propriedades vizinhas, até que um problema com a prefeitura paulistana obrigou a mudança da loja.

Referência para os consumidores de produtos de luxo, a Daslu começou a trabalhar com produtos importados a partir da década de 90, quando as importações foram liberadas por decisão do então presidente Fernando Collor de Mello.

Eliana foi casada com o cardiologista Bernardino Tranchesi e tinha três filhos: Bernardo, 26, Luciana, 23, e Marcela, 20. O velório acontece no hospital onde a empresária estava internada e o enterro será no Cemitério no Morumbi, na tarde desta sexta-feira.

Operação policial

Em 13 de julho de 2005, no rastro da Operação Narciso, da Polícia Federal, Eliana Tranchesi, acusada de crime de sonegação fiscal nas importações da Daslu, foi presa e liberada no mesmo dia. Seu irmão e sócio na butique, Antonio Carlos Piva Albuquerque, e o contador Celso de Lima, dono da importadora Multimport (uma das principais da loja), ficaram presos durante cinco dias. De acordo com o Ministério Público Federal, as investigações duraram cerca de dez meses.

Por ocasião da operação policial, a Daslu movimentava anualmente mais de R$ 400 milhões em vendas e tinha perto de mil empregados. Para a inauguração da nova Daslu, em 2005, foram gastos R$ 200 milhões, sendo que parte do investimento (20%) foi bancada pela própria empresa, sendo o restante rateado entre as marcas internacionais que dão sustentação ao negócio.

Sentença

Quatro anos depois da operação da Polícia Federal, em março de 2009, Eliana Tranchesi e seu irmão foram condenados a 94,5 anos de prisão, sendo três anos por formação de quadrilha, 42 anos por descaminho consumado, 13,5 anos por descaminho tentado e 36 anos por falsidade ideológica. Para o contador Celso de Lima, a pena de 53 anos incluiu três anos por formação de quadrilha, 21 anos por descaminho consumado, nove por descaminho tentado e 20 por falsidade.

Responsável pelo processo, a juíza Maria Isabel do Prado, da 2ª Vara Federal de Guarulhos, citou em sua decisão que a “organização criminosa” também devia ser presa por ter “conexões no estrangeiro” e ter dado prosseguimento aos crimes mesmo depois de descobertos em 2005. Por conta disso, a Daslu mudou as operações de importação para o Sul do País. “Os acusados praticaram crimes de forma habitual, como verdadeiro modo de vida, ou seja, são literalmente profissionais do crime”, escreveu a magistrada na sentença.