(*) Fernando Rizzolo
Muitas vezes somos surpreendidos com reportagens em que empresários brasileiros, na maioria exportadores, se queixam do real valorizado, tentando dessa forma induzir o governo a adotar medidas de contenção da valorização da nossa moeda frente ao dólar. Contudo, o cerne da questão não está propriamente na valorização do real em si, mas em múltiplos fatores que levam a este cenário, típico de um país atraente do ponto de vista econômico.
O primeiro deles é a alta taxa básica de juros, instrumento de controle da inflação, mas vilão nas operações de compra de dólar por parte do Banco Central para contenção da queda da moeda, tornando esta operação extremamente cara. O que é preciso entender é que não há desenvolvimento sem custo, se as altas taxas básicas de juros, ou o bom ambiente econômico Brasil como um todo atraem uma enxurrada de dólares em investimentos diretos ou indiretos. Ou, ainda, se bancos e empresas obtêm empréstimos em dólares no exterior a ótimas taxas e aqui aplicam, precisamos saber lidar não com a contenção instrumental perniciosa visando à não valorização da moeda, e precisamos também de mecanismos eficazes que nos propiciem maior competitividade no exterior. Em outras palavras, intervir na velha questão, que ficou conhecida por nós como “custo Brasil”.
Aliás, é bom lembrar que a valorização das moedas não é um problema que afeta apenas o Brasil, relacionando isso às altas taxas de juros. Se observarmos os noticiários sobre toda a América Latina, vamos inferir que todos os Bancos Centrais de quase todos os países vizinhos (onde não houve intervenção nas taxas de juros), exceto a Argentina, estão comprando dólares para evitar uma valorização excessiva de sua moeda. Portanto, não há que se falar ou focar apenas nos instrumentos paliativos de contenção da valorização da moeda brasileira, mas, sim, como mencionei anteriormente, devemos voltar o debate para os fatores que impedem sobremaneira a competitividade dos nossos produtos, dentre eles a diminuição da carga tributária, a desoneração dos encargos trabalhistas, o aproveitamento de um dólar mais desvalorizado com investimentos na importação de equipamentos industriais que possibilitam aumento da produção… Em outras palavras, é importante enfrentar uma discussão que se tenta a todo custo fazer no Brasil, mas que não prospera – é quase sempre postergada, em razão das questões políticas sindicais. Por ironia política, essa discussão é silenciada também por certos setores empresariais – que evitam esse embate, já que advogar a contenção da valorização da moeda através de leilão de compra de dólares no mercado à vista acaba sendo mais vantajoso a curto prazo para alguns setores da economia. Pensar o Brasil de dentro para fora é caminho melhor do que as tais soluções econômicas, que mais servem à política do dia a dia do que ao desenvolvimento do país.