Oposição realiza ato para celebrar privatização de aeroportos, mas escândalo ainda está por vir

Arquivo X – Na quinta-feira (1), partidos de oposição ao Palácio do Planalto (Democratas, PSDB e PPS) promoveram, no Aeroporto Internacional Juscelino Kubitscheck, em Brasília, ato para celebrar a primeira grande privatização do governo do PT. Recentemente, o governo privatizou os aeroportos de Brasília, Viracopos (Campinas) e Guarulhos (SP).

“1º de março de 2012, celebração da primeira grande privatização do governo do PT. Presidente da República Dilma Rousseff. Valor da privatização R$ 4,5 bilhões”, registrava a placa preparada pelo deputado Mendonça Filho (Democratas-PE), que foi fixada em uma coluna no saguão do aeroporto da capital federal.

O líder do Democratas na Câmara, deputado ACM Neto (BA), afirmou que os três partidos de oposição deram início a uma série de atividades que serão feitas em todo o País. “O objetivo é mostrar o modo petista de governar. Vamos criar fatos mostrando que promessas de campanha da presidente Dilma não estão sendo cumpridas”, disse.

ACM Neto disse que a presidente Dilma Rousseff fez campanha contra a privatização e agora numa “contradição” está chamando a iniciativa privada para participar da melhoria da infraestrutura do País. “A presidente se rendeu aos fatos e chamou a iniciativa privada. Isso evidencia que o PT do passado é um e o PT do presente é outro”.

Durante a campanha presidencial de 2006, o PSDB se acanhou diante das falácias petistas que davam conta que uma eventual vitória de Geraldo Alckmin, que à época disputou a presidência com Lula, significaria uma onda de privatizações, a começar pela Petrobras. Uma descomunal inverdade, algo que marcou os oito anos em que o ex-metalúrgico esteve no Palácio do Planalto.

Calcanhar de Aquiles

O grande problema da privatização dos três aeroportos não está na decisão do PT de rasgar o discurso do passado, mas, sim, na composição dos consórcios que venceram as licitações. A desconhecida empresa africana que arrematou o aeroporto de Guarulhos terá sob sua administração nada menos do que 30% dos passageiros e 57% da carga do transporte aéreo nacional. Fora isso, a tal empresa africana, cujas credenciais não são tão ortodoxas, faz parceria no consórcio com a Invepar, criada em 2000 e que tem como sócios três fundos de pensão de estatais (Funcef, Petros e Previ), além da OAS, empreiteira que flanou nas alturas durante a existência do finado senador baiano Antônio Carlos Magalhães. Para bom entendedor significa que o PT está nos bastidores da nebulosa operação.

O governo da presidente Dilma nem sonhava em conseguir oferta maior do que R$ 6 bilhões por Guarulhos. Quando o leilão chegou a incríveis R$ 12 bi, um executivo de uma das mais experientes administradoras de aeroprotos do planeta garantiu que a conta não fecha. Mesmo assim, o valor do leilão de Guarulhos de R$ 16,2 bilhões, além de R$ 4,6 bilhões em reformas, estipuladas em contrato, para a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016. A conta não fecha por um motivo muito simples. A receita total do aeroporto de Guarulhos calculada pelo Planalto, para os vinte anos anos da concessão, é de R$ 17 bilhões, apenas 5% a mais do que os fundos do PT pagaram somente pela outorga. As prestações para a autorgam serão de R$ 800 milhões por ano, enquanto o faturamento anual do aeroporto de Guarulhos é de R$ 500 milhões.

O grupo argentino Corporación América, que arrematou o aeroporto de Brasília, é conhecido na terra do tango por suas promessas mirabolantes não cumpridas. No Brasil, para levar o aeroporto da capital dos brasileiros, o Corporación América deu lance de R$ 4,5 bilhões pela outorga e assumiu o compromisso de investir outros R$ 2,8 bilhões. O mesmo grupo, que na Argentina administra aeroportos regionais, há anos vem enrolando a Casa Rosada, sede do Executivo local, a quem deve US$ 104 milhões.

Nessa estranha barafunda em que se transformou a primeira grande privatização da era petista, o lance menos polêmico foi o relacionado ao aeroporto de Viracopos, em Campinas, ofertado pelo endividado Grupo Triunfo, que tem como parceiros um punhado de franceses. O grupo, que pagou ágio de 159%, é o mesmo que em 2008 venceu a disputa pelas concessões das rodovias paulistas Ayrton Senna e Carvalho Pinto. Tempos depois, o governo paulista retomou as rodovias porque o consórcio não conseguiu cumprir o que prometera.

Se os oposicionistas baterem nessa tecla com o devido afinco, o Palácio do Planalto por certo tremerá por alguns longos meses. Basta vontade e articulação!