Morre no Rio de Janeiro o escritor e jornalista carioca Millôr Fernandes

Minuto de silêncio – Morreu no Rio de Janeiro, no bairro de Ipanema, vítima de falência múltipla de órgãos e parada cardíaca, o escritor Millôr Fernandes. Carioca do Méier, o escritor nasceu Milton Viola Fernandes, mas uma caligrafia duvidosa no registro de nascimento lhe deu o nome de Millôr. Casado com Wanda Rubino Fernandes, tinha dois filhos, Ivan e Paula, e um neto, Gabriel.

De acordo com informações da família, o velório está marcado para quinta-feira (29), das 10h às 15h, no cemitério Memorial do Carmo, no Caju, na Zona Portuária do Rio. Em seguida, o corpo do escritor será cremado.

Em 2011, o genial Millôr foi internado duas vezes na Casa de Saúde São José, na Zona Sul carioca, mas os médicos, a pedido de familiares, não revelaram o motivo da internação.

Escritor, jornalista, desenhista, dramaturgo e artista autodidata, Millôr Fernandes iniciou a carreira, aos 14 anos, como colaborador da revista “O Cruzeiro”, época em se dedicou às tarefas de tradutor e autor de teatro. No final da década de 60 fundou, juntamente com amigos, o jornal “O Pasquim”, que ganhou destaque pela aguerrida e inteligente oposição à ditadura militar.

Autor de várias peças, Millôr foi o maior tradutor do dramaturgo William Shakespeare no País. Em seu sítio eletrônico, o escritor publicava textos de humor e cartuns, além de disponibilizar aos leitores trabalhos das últimas cinco décadas.

Pensador revolucionário, Millôr lançou ao mundo frases memoráveis, como “Como são admiráveis as pessoas que nós não conhecemos bem” e “Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim”.

Confira abaixo a repercussão da morte de Millôr Fernandes

“Um grande intelectual que merece todo o respeito do Brasil. Enquanto vivo, nunca deixou de participar da vida pulsante do país, com seu talento, sua dedicação e seu amor pelos brasileiros”. (Roberto Freire, deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS)

“Com a morte de Millôr Fernandes, o Brasil perde uma referência de humor refinado, criatividade e bagagem cultural. Sua vida foi um exemplo de retidão e princípios que ajudou muito na formação do pensamento democrático brasileiro”. (Gilberto Kassab, prefeito de São Paulo)

“Millôr Fernandes foi um gênio brasileiro, um ícone do humorismo. Brilhante jornalista, com a mesma maestria tornou-se escritor, cartunista e dramaturgo. Autodidata, traduziu para o português dezenas de obras teatrais clássicas. Atuou em diversos veículos de comunicação, além de ter sido fundador de publicações alternativas. Com sua morte, o Brasil e toda a nossa geração perdem uma referência intelectual”. (Dilma Rousseff, presidente da República, em nota divulgada pelo Palácio do Planalto)

“Me deu uma tristeza danada saber que Millor também se foi. Um dia eu estava no Antiquário, no Leblon, e, à saída, fui abordado por Fernando Pedreira, que estava com uma turma que sempre se reunia lá: José Lewgoy, Marcos Vasconcelos e o Millor. Pedreira me apresentou e Millor comentou: rapaz, dá gosto ouvir você falando no rádio. Atualmente deve ser a única voz no rádio que fala a velha língua portuguesa. Dá para imaginar minha euforia? Eu não sou milloriano do Pasquim, não. Sou do Cruzeiro. Era menino e meu pai levava O Cruzeiro pro sertão com aquelas coisas fabulosas que ele escrevia, desenhava e editava. Fala-se em gênio à toa pelo Brasil. Millor (como Chico Anysio), era GÊNIO mesmo. (José Nêumanne Pinto, jornalista e escritor, no Facebook)

“Minha vida cresceu na luz do Millor. Fui apresentado a ele, fiquei emocionado. É uma das marcas mais importantes da cultura brasileira na questão do humor. Ele era uma entidade, já tem uma posição muito sólida e estável. Não existe uma área da cultura que ele não tenha visitado: teatro, literatura, música, artes plásticas. O cara era uma figura que se expandiu sobre todas as possibilidades da cultura. Politicamente, ele era uma pessoa conservadora. É meio ‘abalante’ você assistir a morte de dois grandes nomes do humor e da cultura, Chico e Millôr”. (Laerte, cartunista)

“Fico espantado que em poucos dias morreram dois dos maiores humoristas do Brasil, num país em que o humor não está com o mesmo vigor que tinha. O bom humorismo é o que eles faziam, que virava pelo avesso o comportamento brasileiro. E, pelo avesso do espelho, a gente via o país de uma maneira muito mais clara. Os dois têm o mérito de ter mostrado durante todos esse anos o lado risível da nossa vida.” (Arnaldo Jabor, cineasta e jornalista)

“Foi o mestre mais importante da minha geração, o cara mais influente. Começou também garoto, trabalhando em redação. Teve que se virar sozinho muito cedo, ficou órfão de pai e mãe muito jovem. Desenvolveu uma agiliadde mental muito rapidamente. Sempre teve um trabalho que se aproximava do plástico, uma coisa sofisticadíssima. Podemos dizer que era um deus pra gente. Sabia muito bem como ir pulando de uma coisa para outra. Queria deixar todo mundo corformado. Foi um mestre mais importante da minha geração, o cara mais influente. Foi lá assistir o Chico Anysio diretamente.” (Paulo Caruso, cartunista)

“O Millôr conseguia esse milagre de misturar o traço e a palavra e introduzir a dimensão filosófica, não só fazia rir como fazia pensar. Perdemos o Chico Anysio e agora o Millor. O Brasil perdeu a graça. Ele era absolutamente genial. É realmente muita perda. Ele era acessível, não era um hermético. Usava o humor para pensar. Uma perda terrível. Para o jornalismo, literatura, tradução, teatro, tudo. É sempre um choque e uma sensação de injustiça.” (Zuenir Ventura, jornalista e escritor)

“Sempre foi um cara muito cioso da profissão de humorista. Mostrou que humorista é um intelectual, na verdade, e com muita coragem. Deu a sua contribuição. Poderia ter ficado mais entre nós, mas viveu. Estou realmente muito emocionado.” (Marcelo Madureira, humorista)

“Morre Millor, melhor do humor. A Terra tem ficado mais triste. E tem uns maus políticos que não pegam nem resfriado…” (Evandro Mesquita, músico e ator)

“Em menos de uma semana mestre Chico Anysio e, agora, Millôr nos deixaram. Só podemos lamentar e reconhecer que foram verdadeiros gênios!” (José Luiz Datena, jornalista e apresentador de televisão)