Rolo compressor na Câmara aprova a Lei Geral da Copa, rasga a legislação e libera bebidas nos estádios

Copo na Copa – Para atender às exigências da FIFA, a Câmara dos Deputados, monitorada pelo Palácio do Planalto, rasgou a legislação brasileira ao aprovar a Lei Geral da Copa e liberar a venda de bebidas alcoólicas nos estádios durante a Copa do Mundo de 2014. Ratificando o que noticiamos desde o início da polêmica, acordos devem ser cumpridos. O erro maior foi o governo brasileiro ter se curvado diante da FIFA, quando a entidade máxima do futebol anunciou que o País sediaria o Mundial de 2014. E se culpado existe, este atende pelo nome de Luiz Inácio da Silva, que vez por outra encara as leis com seu conhecido desdém.

Para que a Lei Geral da Copa fosse aprovada no plenário da Câmara, o presidente da Casa, deputado Marco Maia (PT-RS), assumiu o compromisso de colocar o Código Florestal Brasil em votação no mês de abril. Mesmo assim, o relator do projeto, Vicente Cândido (PT-SP), foi obrigado a mudar o texto final, excluindo o artigo que previa a autorização expressa para venda de bebidas alcoólicas nos jogos da Copa. O relatório aprovado apenas suspende a validade, durante a Copa, de artigos do Estatuto do Torcedor que proíbem a venda de bebidas nos estádios.

A oposição defendeu até o fim a proibição da venda de bebidas, mas acabou vencida pelo fisiologismo que reina no Congresso Nacional. O deputado Vanderlei Macris, do PSDB paulista, disse que “a liberação de bebidas é um péssimo exemplo que o Congresso dará à sociedade brasileira”. Tirar a razão de Macris é querer não enxergar o óbvio, pois ao povo ficará a mensagem subliminar de que no Brasil tudo pode e que leis devem, sim, ser desrespeitadas.

Líder do governo na Câmara, o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) rebateu a crítica da oposição alegando que “duas horas num estádio não vão transformar um abstêmio em um alcoólatra”. Chinaglia também tem razão, mas duas horas são suficientes para transformar um bêbado em um agressor violento, quiçá em um assassino.

Dono de arrogância que pode ser um sério complicador para o Palácio do Planalto em assuntos futuros, Arlindo Chinaglia desafiou o governador Geraldo Alckmin, de São Paulo, a manter a proibição da venda de bebidas nos jogos da Copa. “Quero saber se o governador Alckmin vai romper o contrato com a FIFA. Chamo a atenção de forma carinhosa, mas não podemos fazer um discurso e, em um ambiente menor, mudar de opinião”. Esse jogo rasteiro de Chinaglia não merece resposta, pois seria dar atenção a quem se vale de um raciocínio obtuso e tacanho.

O Brasil nem de longe precisa da Copa do Mundo para se promover. O Mundial de futebol impedirá que recursos federais sejam aplicados em obras importantes e necessárias, para custear a construção de estádios que depois da competição serão “elefantes brancos”.

A Copa funcionará como cornucópia particular dos donos do poder, uma vez que os aditivos contratuais já começaram a elevar os preços das obras. Se nos Jogos Pan-Americanos do Rio, em 2007, a roubalheira foi monstruosa, não é difícil imaginar o que acontecerá com as obras da Copa. Será a maior gatunagem da história verde-loura.