Medidas do governo de incentivo à indústria são pontuais e quase inócuas, alertam analistas

(Foto: Dida Sampaio - Agência Estado)
Efeito duvidoso – O pacote de medidas de incentivo à indústria nacional tem tudo para ficar na seara da cosmética oficial, pois ações pontuais não resolverão os problemas de um setor que sofre há mais de uma década e já patrocina um processo perigoso que é a desindustrialização.

Durante o anúncio feito na manhã desta terça-feira (3), no Palácio do Planalto, o ministro Guido Mantega, da Fazenda, falou sobre o novo regime automotivo, que vigorará de 2013 a 2017 e que cria regras para que as empresas não sofram o aumento de trinta pontos percentuais a alíquota do IPI, instituída em 2011 para carros importados de fora do México e do Mercosul.

Se o real desejo do governo da presidente Dilma Rousseff é valorizar a indústria nacional, a frota de carros oficiais da Presidência da República e dos ministérios deveria ser substituída por modelos nacionais. Até onde se sabe, a presidente usa carro importado, assim como seus ministros.

Esse discurso pirotécnico serve para tirar o Palácio do Planalto da linha de tiro, pois a situação do setor industrial começa a exibir os primeiros reflexos da irresponsável política econômica adotada por Luiz Inácio da Silva, que tratou de vender ao mundo uma enganadora bolha de virtuosismo.

Outra medida anunciada é controle da valorização do Real frente às moedas estrangeiras. O governo se comprometeu a continuar intervindo para controlar o câmbio, mas trata-se de uma medida que beira a impossibilidade quando analisada o novo capítulo da crise econômica que afeta a União Europeia. Com a Espanha e Portugal na condição de bolas da vez, investidores iniciaram um processo migratório para outros mercados mais atrativos e seguros. Entre os destinos dos investimentos o Brasil está em lugar de destaque, o que significa aumento do volume de capital estrangeiro no País. Para tornar o cenário verde-louro mais atrativo para os investidores, o País pratica taxas de juros absurdas e o governo federal continua captando recursos no mercado para financiar uma dívida interna astronômica.

A desoneração da folha de pagamento para alguns setores não tem garantia de sucesso, pois determinados segmentos preferem continuar no sistema atual, uma vez que no passado, por força da extensão dos encargos sociais, apelaram para a terceirização. É o caso do setor de confecções, que há muito sofre a concorrência desleal dos produtos importados.

Na opinião do professor Samy Dana, da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), as medidas anunciadas não representam uma solução permanente e de largo espectro. “Essas medidas ajudam, mais não resolvem o problema. Não adianta reduzir tributos pontuais e específicos. É necessário diminuir toda a carga tributária brasileira, sobretudo, reduzir o spread bancário. Sendo assim, não haverá um grande aumento do número de emprego no país depois dessas medidas. Precisamos fazer mais”, declarou Dana.

Economista da consultoria Cruzeiro do Sul, Jason Vieira disse que “é difícil achar algo de positivo no pacote anunciado”. Na opinião de Vieira, as medidas são pontuais. “Enquanto trabalhamos com essas medidas pontuais, postergamos reformas maiores e necessárias”, declarou. Em relação à desoneração da folha de pagamento, o economista reforça a informação citada pelo ucho.info, de que alguns setores devem permanecer no modelo atual. “Tiveram de pedir silêncio à plateia porque houve muita gente reclamando da medida. Dependendo do faturamento e do nível de utilização de mão de obra, a medida pode encarecer o tributo”.