Interesses escusos – A decisão da base governista de criar uma CPI ara investigar os tentáculos do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, no mundo político contempla apenas e tão somente os interesses eleitorais do Partido dos Trabalhadores, que está em desvantagem na disputa pelo comando de algumas das principais capitais brasileiras, como é o caso da cidade de São Paulo, onde o candidato petista Fernando Haddad não sai do lugar.
Como se sabe, os petistas cultivam relações escusas há muito tempo, mas no momento o objetivo é bombardear a campanha de José Serra, pré-candidato tucano à prefeitura paulistana, com chances concretas de vitória.
Imaginar que as investigações de uma CPI, seja mista ou não, prosperarão é um ato de irresponsabilidade, pois na teia de Carlinhos Cachoeira há políticos de todas as correntes envolvidos, inclusive do PT. De tal modo, o que o líder do PT no Senado Federal, Walter Pinheiro (BA), quer alcançar com o anúncio da coleta de assinaturas é desestabilizar os adversários do Palácio do Planalto, a quem não interesse ver o assunto dissecado. Nas coxias palacianas sabe-se que há muitos parlamentares envolvidos com Cachoeira, cujos encontros foram registrados em vídeo.
A cassação do mandato do senador Demóstenes Torres (sem partido – GO) é tida como certa, mas será preciso que a Comissão de Ética do Senado produza provas, pois o Supremo Tribunal Federal já negou acesso ao conjunto probatório que embasa o processo contra o parlamentar goiano.
No contraponto, o discurso do ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, sobre a legalidade das escutas telefônicas envolvendo Demóstenes é tão sólido quanto um castelo de areia na praia. Advogado experiente e professor de Direito, Cardozo sabe que grampear autoridades depende de autorização do Supremo, uma vez que a Constituição Federal é clara quando trata do foro privilegiado. Alegar que as escutas telefônicas promovidas pela Polícia Federal tinham como objetivo monitorar somente Carlinhos Cachoeira é inconsistente, pois os policiais, ao detectarem a eventual participação de um senador no esquema do contraventor, deveriam ter acionado o STF.