Na veia – No Brasil, a Justiça tarda muito, mas vez por outra não falha. Após quase quinze anos de espera, os enfermeiros e enfermeiras do País – entenda-se os profissionais de bem – conseguiram manter intactas a dignidade e a honra de tão importante categoria do sistema de saúde.
Na gestão da então presidente Maria Goretti David Lopes (2007-2010), a Associação Brasileira de Enfermagem protocolou no Conselho Regional de Enfermagem do Rio de Janeiro pedido de julgamento de conduta ética do enfermeiro Gilberto Linhares, preso na Operação Predador, da Polícia Federal, em 2005.
A ação policial em questão resultou de investigações de um inquérito de 1998, da Delegacia Fazendária, aberto a partir de denúncias de Maria Goretti Lopes. De acordo com o delegado José Mariano, do grupo Missão Suporte, os acusados causaram prejuízo de R$ 50 milhões (valor da época) aos cofres públicos.
Na sede do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), no Rio de Janeiro, os policiais apreenderam documentos e computadores, além de cumprirem mandados de prisão em outros pontos da capital fluminense. Longe da Cidade Maravilhosa, a PF prendeu na capital sergipana, Aracaju, o enfermeiro Gilberto Linhares Teixeira, então presidente do Conselho. Em São Paulo, os policiais prenderam a mulher de Linhares, Hortência Linhares. Ambos foram acusados de chefiar uma quadrilha que envolvia funcionários do Cofen nos estados do Rio de Janeiro, Goiás, Piauí, Sergipe e Alagoas.
No esquema Gilberto Linhares cometeu os crimes de lavagem de dinheiro ou ocultação de bens, como dispõe o artigo 1º, da Lei 9.613/98 (Lei dos Crimes de Lavagem de Dinheiro). É importante ressaltar que o dinheiro e os bens ocultados eram do Conselho Federal de Enfermagem, que Linhares decidiu o destino por ocasião de sua participação na gestão do Sistema Cofen-Conselhos Regionais de Enfermagem. Ou seja, como representante da enfermagem brasileira à época o alarife Gilberto Linhares incorreu no crime de má gestão do dinheiro público.
Na tarde desta sexta-feira (13), a folclórica superstição do dia tido como de azar caiu sobre a cabeça de Gilberto Linhares. Reunido em Brasília, o Conselho Federal de Enfermagem julgou o processo ético-disciplinar aberto contra Gilberto Linhares e decidiu cassar seu registro profissional.
Esse desfecho, favorável à classe, só foi possível por causa da coragem e do empenho hercúleo de Maria Goretti David Lopes, que ao lado de bravas companheiras de profissão não apenas defendeu a Enfermagem brasileira, mas mandou ao meio fio um abusado que usava a profissão para práticas lesivas e criminosas.