Depois de tentar isolar Jérôme Valcke, ministro do Esporte terá de se reunir com secretário da FIFA

Cada um no seu quadrado – O descrédito de um governo se mede pelas declarações de seus integrantes principalmente pelas conseqüências das mesmas. Em outras palavras, é preciso estar atento para perceber se o que foi dito será seguido à risca.

Enquanto o noticiário é dominado pelos capítulos da CPI criada para investigar a teia de relacionamentos do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, a opinião pública já não se lembra de muitos assuntos importantes. Tomemos a Copa do Mundo de 2014 como exemplo.

Atleta do Século e o melhor jogador de futebol de todos os tempos, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, disse, tempos atrás, que o Brasil era candidato a um fiasco sem precedentes. Quando fez referência ao eventual fracasso da organização da Copa, Pelé ainda não tinha sido chamado pelo Palácio do Planalto para fazer o papel de embaixador brasileiro para o Mundial de futebol. Bastou esse convite para que o discurso do Rei do Futebol mudasse radicalmente.

Porém, a incoerência maior fica por conta do ministro do Esporte, Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Logo após o secretário-geral da FIFA, Jérôme Valcke, declarar que o Brasil precisava de um “chute no traseiro” para cumprir o cronograma das obras para a Copa do Mundo, Rebelo afirmou que o governo não mais aceitaria o executivo da entidade máxima do futebol mundial como interlocutor para os assuntos relacionados ao evento.

Pois bem, na próxima quarta-feira (9), o mesmo Aldo Rebelo embarca para a Suíça, onde se reunirá com Jérôme Valcke. O pior erro que um político pode cometer é prometer algo e não cumprir. A situação fica ainda mais difícil quando a promessa vem carregada de suposta indignação, como é o caso de Aldo. O ministro do Esporte sabe que Valcke errou na forma, mas não no conteúdo da reclamação.

Ao mesmo tempo, Valcke, por mais que conheça os casos de corrupção que rondam a FIFA, nem de longe sabe como funciona o esquema de superfaturamento de obras públicas no Brasil. Deixar para a última hora garante aos contratantes e aos contratados a dispensa de licitação, pois as obras serão tocadas sob a chancela da emergência. E nesse detalhe é que reside a fórmula mágica do negócio.

Análises sobre corrupção à parte, fato é que Aldo Rebelo viajará à Suíça sem levar na bagagem aquele poço de mágoas de encomenda. Resumindo, prevaleceu aquele velho e conhecido ditado “por fora bela viola, por dentro pão bolorento”.