PT que quer envolver a imprensa no caso Cachoeira é o mesmo que tentou comprar dossiê contra Serra

Que fique claro – Desde o momento em que a criação de uma CPI para investigar o contraventor Carlinhos Cachoeira ainda estava no campo da especulação, o Partido dos Trabalhadores tenta tirar proveitos dessa operação que agora é oficial e contou comum empurrão do ex-presidente Luiz Inácio da Silva, que pode acabar enrolado se as investigações forem a fundo.

O primeiro rapapé surgiu na proposta de a CPI investigar alguns órgãos de imprensa, pois o PT quer ver aniquilados os veículos que fazem oposição ao Palácio do Planalto, como se jornalismo opinativo fosse crime. A segunda tentativa de rasteira se deu na quarta-feira (9), quando a base aliada, comandada pelo PT, insistiu na convocação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que em breve no STF sustentará as denúncias contra 38 mensaleiros.

Com as chances cada vez maiores de derrota do petista Fernando Haddad na eleição paulistana de outubro próximo, a tendência é o PT centrar fogo na revista Veja, que na seara política é classificada como tucana. Para arrastar a publicação para o olho do furacão, petistas não têm dado trégua ao jornalista Policarpo Jr., diretor de redação da revista Veja em Brasília.

A armação petista tem como justificativa o fato de algumas gravações telefônicas feitas pela PF mostrarem Carlinhos Cachoeira afirmando ter repassado informações a Policarpo. Até aí nada demais, pois não é crime e nem mesmo associação ao crime um jornalista ter como fonte um envolvido em escândalo. Deputado cassado, mas ainda exercendo o poder no PT, José Dirceu tem dito que Policarpo Jr. e a revista Veja têm ligações com o crime organizado. Dirceu pode dizer o que quiser, pois afinal vivemos em uma democracia, onde a liberdade de expressão é garantida por lei. O único problema nessa história é que o cassado José Dirceu precisa provar o que diz.

Esse comportamento do PT não é novidade. Por ocasião do caso Celso Daniel, então prefeito de Santo André assassinado porque sabia demais, petistas foram escalados para intimidar o editor do ucho.info, que respondeu processos na Justiça por ter divulgado as gravações telefônicas feitas pela polícia e queixam claro que o crime foi de encomenda e essencialmente político, quiçá não tenha sido partidário. Para dar ares de probidade às intimidações ao editor, jornalista Ucho Haddad, o PT se valeu de um ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, que à redação enviou mensagem eletrônica ameaçadora. Na sequência, o editor foi informado de que estava em marcha um plano para assassiná-lo. O que não se consumou porque diversas autoridades foram informadas a tempo. Para completar, este site permaneceu fora do ar durante várias semanas, voltando à normalidade após migrar para os Estados Unidos.

A estratégia do PT açambarcar alguns veículos de comunicação é no mínimo arriscada, para não dizer que é burra, pois ultrapassa o bom senso exigir que setores da imprensa sejam investigados, apenas porque as fontes de alguns jornalistas estão envolvidas no escândalo de Carlinhos Cachoeira. Jornalismo investigativo, principalmente, se faz também com infiltrações, pois conseguir informações exclusivas não é tarefa das mais fáceis. Contudo, cultivar fontes no submundo do poder não significa virar as costas para a ética profissional. O que o PT busca no momento é dar o troco em alguns veículos de comunicação, que nas últimas eleições criticaram os candidatos do partido.

Esse falso moralismo do PT se desmonta facilmente com uma rápida e curta viagem no tempo. Em 2004, semanas antes de José Serra e Marta Suplicy partirem para o segundo turno da disputa pela prefeitura de São Paulo, emissários petistas tentaram encomendar um dossiê contra o candidato tucano. Na primeira incursão apareceram com uma oferta de US$ 150 mil dólares. Diante da negativa, esses profetas da corrupção dobraram a oferta e tentaram conseguir a papelada por US$ 300 mil. Como a investida não deu certo, restou fingir que nada tinha acontecido. Mas a sanha petista por dossiês e rapapés é uma doença incurável. Dois depois da última investida, a oferta subiu para US$ 500 mil. Como a resposta negativa prevaleceu, o capítulo seguinte foi aterrorizar os familiares do editor.