Por que a sexualidade nos cria tantos problemas ao longo da vida?

(*) Alessandro Vianna –

O individuo é um ser essencialmente subjetivo, resultado de sua formação, de seu tempo, de sua família, de suas experiências, verdades, religião, dos seus conceitos, dos livros que leu, dos filmes que assistiu, de tudo o que ouviu em casa e na escola.

Portanto, é importantíssimo que a família e a escola, em parceria, desenvolvam um trabalho de orientação sexual que possibilite à criança o entendimento das transformações que vão ou estão ocorrendo em seu corpo e transmitindo-lhe sensações, de uma forma natural e sem tabus.

Conhecendo melhor o desenvolvimento da sexualidade infantil, constatou-se que os comportamentos sexuais são aprendidos desde a infância e, por isso mesmo, a família e a escola desempenham um importante papel quando, através das informações corretas, garantem e protegem o desenvolvimento natural da sexualidade.

Uma criança falante e curiosa pode começar a mostrar interesse pelo sexo aos 2 ou 3 anos, mesmo sem o uso da palavra. A maioria o faz com 4 ou 5 anos de idade.

Infelizmente, o papel de pai e de mãe na educação sexual perdeu-se em um mundo onde se troca toda a atenção necessária por “presentinhos” – uma forma extremamente capitalista de ver o mundo.

A família no século XXI mudou o seu modo de viver. No seu núcleo, a figura da mulher, que antes tinha a santificada tarefa de educar os filhos, de acompanhar passo a passo sua infância e adolescência, orientá-los diariamente em todas suas posturas e comportamentos, já não cumpre mais esse papel.

Ela tomou seu lugar na sociedade e está inserida no mercado de trabalho, passando longos períodos fora do lar. Muitas, naturalmente, têm dificuldades em conciliar o trabalho com a administração da casa e com a educação dos filhos – três árduas responsabilidades.

Paralelamente, mesmo com tanta modernidade, com ampla abertura dos temas sexuais em nossa sociedade, muitos pais têm dificuldade em abordar o tema “sexualidade” com os filhos; por uma questão de valores, preconceitos, tabus ou mesmo por vergonha.

O máximo que se vê são recados passados nas entrelinhas, no meio de frases como: “Tome cuidado”, “Não vá aprontar” ou através de comentários negativos sobre tantos fatos envolvendo outros jovens, que contrariam as expectativas da sociedade e da família.

Mas, mesmo que os pais não toquem diretamente no assunto, as garotas conhecem a opinião deles e, bem por isso, não fazem perguntas, nem exprimem suas dúvidas.Então, ou permanecem na dúvida, ou vão esclarecer-se com pessoas de fora.

O ser humano não nasce com tendências a se auto-educar. Precisa de normas, limites, delimitações de espaços, regras, modelos e exemplos a serem seguidos.

Os adolescentes devem ser levados pelos pais e educadores a refletirem sobre a sexualidade, conhecerem suas possibilidades e limites; mas com dados reais e não sob pressão e medo.

A sexualidade sempre foi algo surpreendente para crianças e curioso para adolescentes: a percepção das diferenças no próprio corpo e no corpo do outro, a descoberta das carícias e da fonte incontestável de prazer que o sexo representa, desperta a sua atenção continuamente.

A idéia de que sexo “não é conversa para crianças” contribui ainda mais para aguçar a imaginação de cabecinhas ávidas por informações. Como as respostas não são conseguidas em casa, entram em ação os “colegas sabe-tudo” que, na maioria das vezes, sabem muito pouco e acabam deturpando fatos e informações; criando falsas verdades ou dúvidas ainda maiores.

No início, o que a criança quer saber é muito pouco. Não é preciso explicar detalhes, nem mentir, desconversar, ou brigar. Basta explicar o básico, na linguagem que ela puder entender.

As crianças têm estímulos de sobra em relação à sexualidade e a outros aspectos da vida. Assim como se esclarece para a criança que ela deve atravessar a rua olhando para os lados, escovar os dentes, lidar com horários e dinheiro, ou aprender as cores, é fundamental que ela aprenda a compreender seus sentimentos em geral; inclusive os da sexualidade.

O desconhecimento, o não dito, pode gerar fantasias e angústias. Então, nada de ficar colocando cegonhas e estrelinhas na pauta, nem fugir do tema. O importante é o orientador abrir espaço para dúvidas e responder aquilo que é solicitado.

Existem livros e profissionais que podem orientar de uma maneira prática e tranqüila a indispensável educação sexual.

Lembre-se: se você não acolher e orientar adequadamente seu filho, alguém mal intencionado poderá exercer esta função!

(*) Alessandro Vianna é psicólogo com especialização em hipnose clínica, acupuntura sistêmica e aromaterapia.