Silêncio de Cachoeira ridiculariza a CPI, ajuda os envolvidos no esquema e coloca em xeque a investigação

(Foto: Antônio Cruz - ABr)
Armação ilimitada – O circo tomou conta da CPI do Cachoeira com a decisão do contraventor goiano de permanecer calado, não produzindo provas contra si, como prevê a Constituição Federal. A insistência dos integrantes da Comissão em manter o depoimento de Carlinhos Cachoeira para esta terça-feira (22) serviu apenas para ajudar os envolvidos no esquema criminoso a ganharem tempo para negociações de bastidores, o que pode livrar algumas dúzias de culpados.

Não se trata de defender o empresário da jogatina, que à luz das provas deve ser condenado, mas de cumprir o que manda a lei e fazer uso do bom senso, pois é impossível destrinchar em alguns dias um inquérito (15 mil documentos e 90 mil arquivos de áudio) que demorou longos meses para ser concluído. Com base no direito do acusado de saber o que pesa contra si, os advogados de defesa solicitaram ao Supremo Tribunal Federal, sem sucesso, o adiamento por três semanas do depoimento.

Diante da negativa do investigado de responder às perguntas, vários parlamentares decidiram não inquiri-lo. Os líderes do PSDB no Senado e na Câmara, respectivamente, Alvaro Dias (PR) e Bruno Araújo (PE), abriram mão de questionar o alvo principal da Operação Monte Carlo, da Política Federal. “Que imagem que nós estamos passando”, afirmou Alvaro Dias, para quem Cachoeira depõe na CPI com “arrogância diante dos livres”. Bruno Araújo, por sua vez, pediu a reconvocação imediata do contraventor.

A senadora Kátia Abreu (PSD-TO) fez a mais contundente crítica à sessão. “Estamos fazendo um papel de ridículo diante deste cidadão”, afirmou a parlamentar tocantinense, que diante do silêncio do acusado entendeu estar perguntando “para uma múmia”. “Um cidadão que não quer responder. Não vou ficar aqui dando ouro para bandido”, disse.

Relator da CPI, o deputado federal Odair Cunha (PT-MG) sugeriu que a sessão fosse transformada em administrativa e que os parlamentares votassem um requerimento de reconvocação de Carlinhos Cachoeira, o que pode acontecer no começo de junho, após o acusado ser ouvido em audiência na 11ª Vara Federal Criminal de Goiás. Insistir na manutenção do depoimento atrasa sobremaneira as investigações e serve para desacreditar a Comissão, que teria lucrado se concordasse com o adiamento do depoimento.

Como a sessão não poderia terminar de forma vergonhosa, parlamentares se dividem entre perguntas que não serão respondidas e discursos inócuos que em nada contribuem para elucidação do caso. O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) disse que o silêncio de Carlinhos Cachoeira é uma confissão de culpa. O parlamentar fluminense está completamente equivocado, pois democracia se faz com o respeito ao conjunto legal, o qual estabelece que ninguém será considerado culpado antes do trânsito em julgado de sentença condenatória, assim como o acusado não é obrigado a produzir provas contra si, como mencionado anteriormente. Sendo assim, por mais que Cachoeira saiba o que fez de errado, é preciso cumprir o rito legal, o que pauta os trabalhos de uma CPI.

Os parlamentares com experiência em CPIs, como o senador Alvaro Dias e os deputados Onyx Lorenzoni e Mendes Thame, entre outros, se abstiveram de fazer perguntas, pois sabem que as mesmas serviriam de balizamento para o trabalho dos advogados de defesa, que devem se ater ao conjunto probatório existente no inquérito.

A inocuidade dos discursos dos parlamentares é tamanha, que o advogado Márcio Thomaz Bastos por mais de uma vez esboçou o seu contentamento com o desfecho, trocando sorrisos com o seu cliente.