“Corram atrás da liberdade”, diz o Prêmio Nobel da Paz Desmond Tutu

(*) Do Meio & Mensagem –

Entre elogios ao Brasil e à erradicação da pobreza, arcebispo sul-africano Desmond Tutu pede atenção à liberdade de imprensa

Em apenas dezessete minutos, Desmond Tutu foi aplaudido de pé, brincou com os apresentadores do evento, discursou sobre a liberdade de expressão, homenageou Dom Hélder Câmara (arcebispo emérito de Recife, morto em 1999, e que destacou durante a ditadura militar pela ampla defesa dos direitos humanos – foi criador da influente Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), o senador Eduardo Suplicy, e se foi. Mas a certeza que ficou na plateia é que esses instantes serão lembrados pelo forte impacto da mensagem do arcebispo da igreja anglicana e vencedor do Prêmio Nobel da Paz que dedicou sua vida à luta contra a política segregadora do Apartheid na África do Sul, ao lado de Nelson Mandela.

A última frase de sua palestra no V Congresso da Indústria da Comunicação, uma mensagem aos brasileiros, foi um “façam isso”. Ele se referia à necessária mudança de percepção de agências internacionais de informação sobre a liberdade de imprensa no Brasil. “As principais agências que medem este tipo de informação têm visões negativas sobre a liberdade de imprensa no Brasil. Quando eu olho para os brasileiros, acredito que eles têm a capacidade de mudar isso”, conclamou.

Tutu citou a liberdade de imprensa, bem como a liberdade de expressão de pensamento, porque estes são os principais indicadores do conceito de liberdade. “Liberdade é preciso. E a mídia é poderosa porque pode usar sua influência para mudar as coisas”, disse. “A mídia te que ser livre, embora com responsabilidade”, continuou. Ele relatou que situações recentes na América do Sul acarretaram em investigação em cima de jornalistas.

Liberdade constitucional

Tutu citou ainda a conquista da Constituição Brasileira de 1988, que voltou a dar aos brasileiros o direito de liberdade de expressão, além de criminalizar o racismo, fato que manchou a história recente de seu país natal. “A constituição brasileira de 1824 dava aos cidadãos o direito de liberdade de expressão, mas a regra foi subvertida pela ditadura militar. Em 1988, a constituição, especialmente o artigo 5, devolveram essa liberdade de pensamento”, analisou.

O contexto em que os brasileiros precisam lutar pela liberdade é positivo para o País. Tutu lembrou todas as conquistas recentes do País, como o fato de ter se tornando um player global e a realização da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos, bem como da conferência Rio+20. “É uma economia vibrante e que preza pelos direitos humanos e liberdade de discurso”. afirma.

Mas ele foi especialmente elogioso à instauração da Comissão da Verdade, pelo governo federal. “A comissão trará a verdade sobre aqueles que sofreram tortura durante a ditadura militar”, afirmou. Ele elogiou também a evolução do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do País, que atingiu um patamar de muito alto, além dos esforços para erradicar a pobreza.

“Vim ao Brasil pela primeira vez nos anos 1970 e percebo um grande contraste entre aquele momento e agora. Eram tempos de um país devastado pelo regime militar. De lá pra cá, houve uma mudança espetacular e o Brasil não é mais só conhecido pelas favelas, pela pobreza, depravação e pelo Cristo Redentor”, analisou. Ele citou ainda seu amigo Dom Helder Câmara e lembrou da casa humilde em que vivia, bem como fez referência aos 104 mortos em um massacre na Síria na semana passada. Mostras de que o mundo precisa caminhar muitos passos ainda para chegar à verdadeira liberdade. E que mensagens como a da apresentação de Tutu devem guiar qualquer líder, seja de país, seja de qualquer mercado. Afinal, como diz uma de suas frases mais conhecidas, “Se ficarmos neutros diante de uma injustiça, então ficamos do lado do opressor”.