Depoimento de Demóstenes no Conselho de Ética é transformado em usina de falsa probidade

Ópera bufa – Provoca náuseas acompanhar a sessão do Conselho de Ética em que o senador Demóstenes Torres (sem partido–GO) apresenta sua defesa no processo por quebra de decoro parlamentar. O momento menos nauseante até então ficou por conta do investigado, que afirmou ser uma atitude republicana receber um rádio comunicador do contraventor goiano Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira. É fato que a República verde-loura virou uma enorme barafunda por conta dos seguidos escândalos de corrupção, mas é inadmissível um membro do Ministério Público não ver maldade em um presente tão bisonho, como o ofertado por Cachoeira.

Contudo, o pior está a cargo do relator do processo, o senador Humberto Costa (PT-PE), que no primeiro governo do companheiro Lula foi acusado de envolvimento na Máfia dos Sanguessugas. O parlamentar pernambucano abusa da desfaçatez ao perguntar a Demóstenes Torres sobre movimentações financeiras e sugere que eventual quantia em dinheiro mencionada em gravação telefônica seria verba não contabilizada de campanha.

Como sempre afirmamos, política é negócio, sempre restrito aos que transitam com destreza nos bastidores do poder e têm acesso a fontes de financiamento. Do contrário, os que frequentam o parlamento jamais seriam eleitos. Sendo assim, na seara da política não há inocentes.

Causa estranheza um representante do partido responsável pelo período mais corrupto da história nacional investigar um senador acusado de corrupção. Ao ucho.info não cabe defender o senador Demóstenes Torres, que por enquanto está na condição de acusado, apesar da contundência de muitas das provas até então apresentadas. Escolhido pelo PT para comandar o processo administrativo que terá julgamento político-partidário, Humberto Costa poderia presentear a sociedade brasileira com alguns esclarecimentos sobre o envolvimento do seu partido em escândalos memoráveis.

Deixando de lado o escândalo do Mensalão do PT, que motivou a criação da CPI do Cachoeira, o PT ancorou casos estapafúrdios como o assassinato de Celso Daniel, então prefeito de Santo André; o episódio do Dossiê Cuiabá, conjunto de documentos apócrifos contra tucanos e cujo dinheiro encontrado com os chamados “aloprados” nunca foi reclamado; o caso Bancoop; o escândalo envolvendo Valdomiro Diniz, denunciado pelo mesmo Carlinhos Cachoeira; as estripulias de Erenice Guerra; a República de Ribeirão Preto e a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa; os honorários pagos a Duda Mendonça em conta bancária no exterior; o imbróglio da Gamecorp, empresa do filho de Lula que recebeu aporte financeiro de concessionária pública; entre tantos outros.

Em relação a doações não contabilizadas, que se apresente o político que entregou à Justiça Eleitoral demonstrativo dos gastos reais de uma campanha eleitoral. Para não fugir da soberba que acomete o Partido dos Trabalhadores, o então senador Aloizio Mercadante, agora ministro da Educação, foi desmascarado pelo publicitário Duda Mendonça durante depoimento à CPI dos Correios. Açoitado por Aloizio Mercadante, o marqueteiro de Lula afirmou que o petista gastara em sua campanha ao Senado valor muito maior do que o declarado à Justiça Eleitoral. E coube a Mercadante, dias depois, apresentar uma desculpa nada convincente.