CPI do Cachoeira: o que o Democratas faz com rapidez que o PSDB insiste em não fazer?

Duas receitas – Compreender os meandros da política é tarefa cada vez mais difícil, quase impossível. E nove entre dez dos que tentam acabam desistindo, pois a cada dia surge uma nova versão para o mesmo fato.

Criada para investigar a teia de relacionamentos do contraventor goiano Carlos Augusto de Almeida Ramos, a CPI do Cachoeira só vingou porque no olho do furacão está o senador Demóstenes Torres (GO), expulso do Democratas tão logo o escândalo foi confirmado. Demóstenes continua na condição de acusado, devendo ser considerado, por força do que determina a Constituição Federal, um inocente, até que a Justiça o condene definitivamente.

Pois bem, como as provas até então trazidas a lume falam por si só, o Democratas não perdeu tempo e forçou a saída do senador. Atitude idêntica o partido teve por ocasião do escândalo que tinha na proa o então governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda. Conferidas as digitais de Arruda no imbróglio que teve até dinheiro na meia, o passo seguinte foi promover a degola partidária.

No caso do governador Marconi Perillo, de Goiás, acusado de envolvimento no esquema criminoso do bicheiro Carlinhos Cachoeira, o PSDB está demorando a tomar uma atitude que lhe garanta o direito de continuar apontando o dedo ao primeiro que passar. Abrir mão de um governador é decisão que deve ser analisada com calma, pois as consequências normalmente são maiores do que as previstas, mas a situação de Perillo caminha na direção do inexplicável.

No depoimento que prestou aos integrantes da CPI nesta teça-feira (5), o empresário Walter Paulo Santiago, proprietário da Faculdade Padrão e que diz ser o comprador da casa do governador de Goiás, apresentou versão diferente da de Perillo para a transação. O governador alegou que recebeu três cheques, totalizando R$ 1,4 milhão, ao passo que Santiago afirmou ter feito o pagamento em dinheiro com notas de R$ 50 e R$ 100.

Em seu depoimento, o empresário disse que o negócio foi intermediado por Lucio Fiuza, que se apresentou como representante do governador, e Wladimir Garcez, que no negócio teria atuado como corretor. “Reafirmo que em momento algum estive em contato com o governador para negociar o imóvel”, disse o empresário, acrescentando que não tem o “hábito de trabalhar com cheques”, disse Walter Santiago.

Em política, como tem afirmado o ucho.info ao longo dos anos, não existe mágica e muito menos o milagre da multiplicação. Campanhas eleitorais com chance de sucesso custam caro e quem investe o faz na esperança de ter a respectiva contrapartida. Isso explica a presença constante do corporativismo na maioria dos escândalos envolvendo políticos, mas é preciso um mínimo de bom senso na condução dos problemas, pois do contrário o que se verá é o acirramento do desrespeito à sociedade e à capacidade de raciocínio do cidadão.

O senador Demóstenes Torres está com um pé fora do Congresso Nacional, mas sua queda não será solitária. Acusado de ser o braço político de Carlinhos Cachoeira, o senador goiano pode deixar a cena política atirando para todos os lados, o que tem feito com que especialistas avaliem a possibilidade de no plenário a cassação do mandato não se consumar.

O Democratas colocou Demóstenes na rampa da guilhotina, mesmo sabendo das consequências. O PSDB, por sua vez, insiste em blindar Perillo, que por questões de coerência deveria pedir afastamento temporário do partido para não causar estragos ainda maiores. No caso de o tucanato não agir para salvar o partido, oferecendo “a cabeça” do governador goiano, dominará a cena justa maledicência da opinião pública.

O ucho.info não tem procuração para defender essa ou aquele legenda, mas cumpre o seu papel jornalístico de alertar para a diferença de posturas de ambas as legendas diante de escândalos. A política não aceita inocentes e por isso todos os que nela atuam e transitam conhecem seus subterrâneos. De igual a política não é, em qualquer hipótese, uma reunião de monges castos e servis.