Candidato à prefeitura de Recife, Humberto Costa fará do processo contra Demóstenes um palanque

Caneta pesada – Quando foi escolhido para relatar o processo contra Demóstenes Torres (sem partido – GO), no Conselho de Ética do Senado Federal, o petista Humberto Costa (PE) disse aos jornalistas que quase nunca seus pares lhe davam uma missão agradável. Discurso barato e de encomenda, por mais que no Congresso Nacional prevaleça o corporativismo. Como no episódio do contraventor Carlinhos Cachoeira o objetivo do PT, mais precisamente de Lula, é estocar o governador Marconi Perillo, carregar a tinta no relatório sobre o caso Demóstenes será tarefa fácil para Humberto Costa.

Escolhido como candidato do PT à prefeitura do Recife, contra a vontade do atual prefeito João da Costa e de muitos petistas locais, Humberto Costa aproveitará para transformar o relatório do processo contra o senador goiano em plataforma de campanha. Em outras palavras, se pequenas eram as chances de Demóstenes se livrar da condenação no Conselho, ainda menores se tornaram com a decisão ditatorial do PT em relação às eleições na capital pernambucana.

Humberto Costa decerto sairá do episódio como paladino da moralidade, mas é preciso lembrar que o próprio relator, em passado não tão distante, foi acusado de envolvimento no escândalo de corrupção que ficou conhecido como “Máfia dos Sanguessugas”, episódio que tinha o desvio de dinheiro público a partir da compra de ambulâncias. Não se trata de defender Demóstenes Torres ou sugerir que o senador é inocente, até porque as provas são contundentes, mas de cobrar a não politização do relatório.

Devidamente informado pelo Tribunal de Contas da União sobre a ilegalidade, Humberto Costa, então ministro da Saúde, deu pouca importância ao caso, o que acabou lhe custando o cargo.

O esquema criminoso foi denunciado pela Polícia Federal apenas em maio de 2006, pois o objetivo do PT palaciano era atingir o tucano José Serra, então candidato ao governo paulista. Durante as investigações surgiu a informação que o esquema das ambulâncias começara durante a estada de Serra no Ministério da Saúde, tendo avançado nas gestões dos ministros, Barjas Negri, Saraiva Felipe e Humberto Costa.

Na sequência, como forma de minar a candidatura de José Serra – e a de Geraldo Alckmin, que naquele ano disputou a presidência – surgiu o escândalo do Dossiê Cuiabá, conjunto de documento apócrifos contra os tucanos Serra e Alckmin. O descaso de Humberto Costa em relação ao episódio das ambulâncias foi traduzido por sua derrota na disputa pelo governo pernambucano.