Com saques de € 800 bilhões por dia, economia grega está à beira do precipício

Corda bamba – A menos de um mês autoridades gregas deflagraram uma campanha para evitar saques elevados de dinheiro nos bancos, mas parece que o resultado não foi dos melhores. Em crise há meses, mesmo depois do socorro financeiro da União Europeia, a Grécia vive a expectativa das eleições legislativas marcadas para o próximo domingo (17).

Preocupados com o que pode acontecer com a economia do país nos próximos dias, os gregos estão realizando saques bancários que totalizam, em média, 800 milhões de euros por dia, o que pode levar o sistema financeiro local à bancarrota por falta de liquidez. Os saques diários cresceram nos últimos dias diante do temor dos gregos, que passaram aguardar dinheiro em casa e a estocar alimentos.

A expectativa é que na eleição de domingo o grupo vencedor opte pela continuidade da Grécia da União Europeia, o que pode esticar ainda mais a crise do País. No contraponto, a saída da Grécia da União Europeia seria trágica não apenas para a nação que foi o berço da democracia, mas para o próprio bloco econômico, que tem se preocupado com a onda de saques.

Autoridades europeias tentam impor medidas de controle de capital na Grécia para minimizar a quantidade de saques bancários, temendo que o país decida abandonar a zona do euro após as eleições legislativas. Além das citadas medidas, discutiu-se nas últimas horas a possibilidade de suspensão do Tratado de Schengen, que permite a livre circulação de pessoas e mercadorias entre os países da União Europeia.

Especula-se que se implantadas na Grécia, as medidas seriam estendidas a outros países da zona do euro que têm enfrentado sérios problemas decorrentes da crise econômica que vem chacoalhando o Velho Mundo e já singrou os mares na direção de outras nações. Por causa desse cenário de incertezas, os mercados financeiros reforçam a cautela à medida que cresce a tensão na região.

Desemprego em alta

Para piorar ainda mais a situação, o desemprego disparou na Grécia e atingiu níveis preocupantes. Nesta quinta-feira (14), a Elstal (escritório de estatísticas do país) divulgou que a taxa de desemprego chegou a 22,6% no último trimestre, contra 20,7% do período anterior.

Trata-se da taxa de desemprego mais elevada desde o início da série histórica, em 1998, muito acima do nível de 15,9% registrado no início de 2011. Com esse dado, o nível de desemprego na Grécia torna-se o mais elevado da União Europeia, somente abaixo da Espanha, que beira a casa dos 25%.

Recessão preocupante

Para turbinar a tensão que domina a zona do euro, a economia grega está em seu quinto ano consecutivo de recessão. O Banco da Grécia (o banco central do país), por sua vez, prevê contração do PIB (Produto Interno Bruto) de 4,5%, após queda de 6,9% em 2011. Entre as autoridades europeias, a expectativa é que a economia grega deve retomar a trajetória do crescimento dentro de dois anos, ou seja, em 2014.

Primeiro país da zona do euro que tropeçou na crise da dívida, a Grécia se valeu de programas de resgate concedidos pela União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional, no total de 240 bilhões de euros (US$ 300 bilhões), que serão pagos em parcelas até 2015, tendo como contrapartida drásticos cortes no orçamento e profundas reformas estruturais. Os ajustes exigidos como moeda de troca do plano de resgate produziu um efeito contrário e colocou a economia no caminho da recessão acelerada.

O não do Banco Mundial

Presidente do Bird, o norte-americano Robert Zoellick, rejeitou nesta quinta-feira (14) sugestões para que a instituição se envolva na solução da crise da dívida grega. Zoelick justificou sua decisão alegando que os recursos do banco, já limitados, devem ser utilizados para ajudar países em desenvolvimento.

No contraponto, especialistas em desenvolvimento e analistas econômicos defendem a tese de que a experiência do Banco Mundial no equacionamento de problemas estruturais em nações em desenvolvimento, como o fortalecimento de suas capacidades institucionais, seria útil na Grécia.

Alegando que o Bird está auxiliando países do Centro e Leste europeus afetados pela crise econômica que eclodiu na zona do euro, Zoellick descartou a possibilidade de órgão se envolver nos problemas da Grécia. “No caso da Grécia, minha visão é de que tentamos manter um pequeno distanciamento disso”, declarou Zoellick ao Instituto Peterson para Economia Internacional.