Os que vão morrer se despedem

(*) Carlos Brickmann –

Ataques à Polícia, em São Paulo, já mataram seis PMs. Os arrastões em bares e restaurantes vão bem, obrigado (e a cúpula da Polícia diz que não deveriam ser chamados de arrastões, porque o nome é incorreto). Treze ônibus são incendiados, para demonstrar o poder do crime. O número de chacinas se multiplica.

No meio da crise, cadê o comando da Segurança Pública? O secretário da Segurança, Antônio Ferreira Pinto, foi a Buenos Aires assistir ao jogo do Corinthians. Como disse, tem o direito de folgar de vez em quando. É verdade – mas qual chefe que se preze tira folga e deixa a tropa abandonada debaixo de fogo?

O governador Geraldo Alckmin, do PSDB, autorizou a viagem do secretário – mais ou menos como se Stalin autorizasse o marechal Rokossovski a entrar em férias no momento em que os nazistas invadiam Moscou. E como foi dada a autorização? De uma maneira curiosa: depois que a imprensa descobriu que o secretário tinha viajado a outro país, a autorização foi publicada no Diário Oficial. Ele viajou antes que a autorização fosse formalizada.

Mas este colunista tem duas qualidades, uma das quais – ser corinthiano – compartilha com o secretário Ferreira Pinto, que dizem ter uma tatuagem do emblema do clube na altura do coração. A outra qualidade deste colunista é ser compreensivo. O secretário queria assistir ao jogo, ao vivo? Tudo bem! Foi antes de ter autorização? Bobagem: a autorização acabou saindo. A viagem foi boa? Foi. O problema não foi a ida: foi a volta.

Por que voltou, voltou por que?

A verdade…

A Justiça condenou o coronel Brilhante Ustra a indenizar a família do jornalista Luís Merlino, pela acusação de tê-lo assassinado por tortura. Decisão corretíssima – e até branda. Abre um precedente dos mais interessantes, permitindo alcançar torturadores notórios e responsabilizá-los, ao menos financeiramente, pelos seus atos.

Mas está faltando a outra parte da história: os presos torturados, com marcas visíveis, quando sobreviviam eram levados a tribunais, onde eram acusados pelo Ministério Público e julgados por magistrados. Mais do que as marcas, informavam ter sido torturados. Cadê os promotores que ignoravam as marcas e as informações e continuavam tranquilos a acusá-los? Cadê as investigações que deveriam ter ordenado para apurar se houve efetivamente tortura e quem a praticou? E os meritíssimos juízes, onde estão? Passarão pela negra história da tortura como quem virou as costas, lavou as mãos, não viu nada?

…inteira

O presidente da OAB do Rio, Wadih Damous, promete trabalhar para que sejam responsabilizados todos os envolvidos na tortura, por ação ou omissão.

Grossura no ar

Espantoso o desempenho do presidente da Câmara Municipal de São Paulo, José Police Neto, do PSD, no programa Jornal Bandeirantes – Gente, da Rádio Bandeirantes: primeiro, chegou com forte e despropositado esquema de segurança; depois, no afã de defender os supermercados contra a obrigação de fornecer embalagens para transporte de mercadorias, gritou, interrompeu os entrevistadores, queria falar sozinho, tentou desqualificar as perguntas – grosseria total.

Police, há tempos, decidiu ir à Câmara de bicicleta, para não provocar poluição. Mas se fazia acompanhar de escolta da PM, com vários carros poluidores.

“Nosso Delúbio”

Delúbio Soares, tesoureiro do PT na época do Mensalão e professor de profissão, escreveu no Twitter (aqui, a grafia original): “Cruzeiro assumi a liderança”; e “os carreiros da cidade inicia a peregrinação”. Mas é maldade criticá-lo por isso. No Twitter o erro de digitação é comum.

No pessoal envolvido com o Mensalão, convenhamos, erro de Português ou de digitação é o que há de pequeno.

Salvar uma vida

O traficante de cocaína Marco Archer Cardoso Moreira, brasileiro condenado à morte na Indonésia, só tem uma chance de não ser executado: um apelo da presidente Dilma Rousseff à clemência do presidente da Indonésia. É difícil, mesmo assim: o Governo indonésio é inflexível na luta contra o tráfico.

Mas é preciso: por maior que tenha sido o crime de Moreira, não se pode aceitar a pena de morte. Há outro brasileiro, Rodrigo Gularte, 39, preso na Indonésia por tráfico de cocaína e condenado à morte. Mas a ele resta uma chance a mais: a possibilidade de que o Governo indonésio exerça a clemência a pedido do próprio réu. Importante: não se trata de evitar a punição, mas de evitar que a pena seja a morte.

Maldadd

Do jornalista Sandro Vaia, comentando a aliança entre o candidato petista a prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e Maluf: “Afinal, o problema de Haddad é ser desconhecido ou ser cada vez mais conhecido?”

Los hermanos

Nos tempos da ditadura do general Alfredo Stroessner, nem ele nem sua família podiam morar no Paraguai, e por isso viveram muitos anos no Brasil. Hoje, o jornalista Martín Sanemann é o novo ministro da Comunicação do Paraguai.

Quem mesmo era contra a ditadura e lutava pela democracia no país?