Audácia vermelha – Na sessão do Senado que decidirá o futuro político de Demóstenes Torres, acusado de envolvimento com Carlinhos Cachoeira, o primeiro a ocupar a tribuna foi o senador Humberto Costa (PT-PE), relator do processo a que respondeu o parlamentar goiano no Conselho de Ética da Casa.
Humberto Costa abriu sua fala alegando que lá não estava como vestal ou paladino da moralidade, mas apenas para se defender das acusações feitas pelo representado, nesse caso Demóstenes, que nos últimos discursos chamou o petista de mentiroso e afirmou que seu amplo direito de defesa foi cerceado.
Como acontece em assuntos polêmicos, como é um processo de cassação, as chicanas discursivas marcam o palavrório de todos os presentes, que aproveitam para, diante das câmeras, vestir o fardão da moralidade e ludibriar a opinião pública. Humberto Costa, que no primeiro governo do companheiro Lula foi ejetado do Ministério da Saúde por causa do escândalo que ficou conhecido com “Máfia dos Sanguessugas” (caso de desvio de dinheiro na compra de hemoderivados), disse com todas as letras que Carlinhos Cachoeira é um criminoso.
Pois bem, sobre as atividades do contraventor não há o que se discutir, mas é importante destacar que o primeiro caso de corrupção da era Lula foi protagonizado exatamente por Cachoeira, que de Waldomiro Diniz recebeu uma cobrança de propina. Diniz, que à época era homem de confiança de José Dirceu, acabou demitido do cargo de confiança que ocupava, pois do contrário o governo Lula chafurdaria na lama logo na estreia.
O senador petista, ao defender a necessidade de cassação do mandato, afirmou que Demóstenes Torres pediu diversos favores ao contraventor, entre eles a compra de produtos luxuosos, como equipamentos de som, eletroeletrônicos e vinhos refinados. A relação entre Demóstenes e Cachoeira nada tem de republicana, mas tal acusação não cabe ao representante de um partido que fez do mensalão o maior caso de corrupção da história política nacional.
|Tudo leva a crer que Demóstenes Torres perderá o mandato de senador, pois é preciso dar qualquer satisfação à sociedade, antes que as investigações da CPI do Cachoeira subam a rampa do Palácio do Planalto. Se isso acontecer, o que não é impossível, o falso moralismo do PT desaparece de vez e a República cai em uma só tacada.
Não se trata de defender Demóstenes Torres, mas de exigir dos políticos doses mínimas de coerência em seus respectivos discursos, pois se boa parte da sociedade está anestesiada com as esmolas sociais e com a pilha de carnês atrasados, a massa pensante nacional ainda goza de boa memória.