PT que defende a cassação de Demóstenes Torres não é o mesmo que se aliou a Paulo Maluf

Dois lados – Quem nada conhece da política brasileira e ouviu o discurso do senador Humberto Costa (PT-PE), relator do processo a que Demóstenes Torres respondeu no Conselho de Ética do Senado, por certo concluiu que o parlamentar pernambucano está coberto de razão e o Partido dos Trabalhadores é um monumento à moralidade.

Como sempre afirmamos ao longo dos quase quatro meses consumidos pelo caso, não se trata de defender o senador Demóstenes Torres, pelo contrário, mas de cobrar coerência ideológica e discursiva, pois política não se faz às pinceladas.

Braço avançado do PT no processo de cassação do senador goiano, o senador Humberto Costa enfatizou em seu discurso assuntos como mentira e atividade criminosa, como se a política fosse uma ininterrupta usina de verdades. Ressuscitar o “Mensalão do PT” e outros tantos escândalos da era Lula seria dar aos governistas a chance de afirmar que somos implicantes. Voltar no tempo é bater na mesma tecla, que mesmo sendo uma ação necessária poderia se transformar em munição para os nossos críticos.

Humberto Costa se ateve ao fato de que o representado afirmou dias atrás, durante discurso em sua própria defesa, que mentir não configura quebra de decoro parlamentar. Em tese a afirmação de Demóstenes Torres é completamente equivocada, mas na prática parece ser plausível, se consideramos a realidade que impera nos bastidores do poder. Se mentir fosse transgressão política, Lula seria um ilustre desconhecido.

Durante décadas, o PT não poupou críticas ao ex-prefeito e agora deputado federal Paulo Salim Maluf, que historicamente tornou-se um inimigo figadal da esquerda verde-loura, a começar pelos petistas. Como Lula é dado ao despotismo e à mitomania, temas que companheiros de longa data do ex-metalúrgico confirma sem titubear, fazer uma aliança de última hora para salvar a candidatura de Fernando Haddad não foi tão difícil.

Maluf, como se sabe, mente de forma reiterada ao dizer que jamais teve conta bancária no exterior, mas as autoridades estrangeiras insistem na expropriação do dinheiro conseguido pelo ex-prefeito na esteira da corrupção, valores que serão devolvidos aos cofres oficiais brasileiros. Estivesse Paulo Maluf falando a verdade, o então promotor de Nova York, Robert Morgenthau, não teria dedicado anos de sua irrepreensível vida profissional na caçada a Maluf, que hoje recheia a lista de procurados pela Interpol. E esse status foi conseguido, segundo as autoridades, no vácuo de atos de corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas, entre tantos crimes listados nos processos.

A capacidade de Lula para ludibriar a opinião pública é tamanha, que o ex-metalúrgico, sem qualquer constrangimento, se deixou fotografar ao lado do outrora desafeto, na casa do próprio ex-prefeito paulistano. Para reforçar a ópera bufa em que se transformou a repentina parceria político-eleitoral, Lula determinou que Maluf fosse recebido no Palácio do Planalto com pompa e fidalguia, ordem devidamente cumprida pela companheira Dilma Vana Rousseff, que como contrapartida foi contemplada com um cavalheiresco beijo no dorso da mão dado pelo deputado do PP.

Pelo que se pode perceber, o PT que defende a cassação de Demóstenes Torres é um, ao passo que o PT que se atirou nos braços de Paulo Maluf é outro. Se não for crime, essa dicotomia ideológica é no mínimo uma enorme mentira, para não afirmar que se trata de desfaçatez alimentada no cocho da corrupção.