No país onde ex-primeira-dama reclama de pensão polpuda, previsão do Congresso para o mínimo é pífia

Fio trocado – Há uma enorme discrepância entre o que afirmam os palacianos e a decisão dos parlamentares em relação ao valor do salário mínimo, a partir de 2013. De acordo com a Lei de Diretrizes Orçamentárias, aprovada pelo Congresso, no próximo ano o salário mínimo saltará de R$ 622 para incríveis R$ 667,75, aumento de 7,35%. Contudo, esse substancial reforço no poder de compra de 47 milhões de brasileiros, concedido em tese pela Comissão Mista de Orçamento, poderá ser revisto pelo Executivo, de acordo com as diretrizes estabelecidas para o reajuste do salário mínimo – inflação do ano anterior mais a inflação do período, medida pelo INPC deste ano.

O descompasso da economia de uma nação no campo social é facilmente auferido quando o salário mínimo é insuficiente para quem recebe e muito para quem paga. É o caso do Brasil, um país de todos, segundo o efusivo Lula.

Nos tempos em que puxava a fila da oposição, o PT sempre buscou amparo para seus discursos em defesa do salário do trabalhador nos números divulgados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que fixa em R$ 2.329,35 o valor capaz de atender às necessidades básicas do cidadão. O grande perigo de se fazer oposição reside no fato de um dia o opositor tornar-se situacionista e ser obrigado a enfrentar a realidade do Estado.

A questão acerca do assunto é que, segundo o IBGE, dois terços da população brasileira ganham menos do que dois salários mínimos por mês. Com esse quadro, apostar em consumo interno como forma de revigorar a economia é assassinar o pensamento e estrangular a lógica.

Como já noticiado pelo ucho.info, o trabalhador que recebe um salário mínimo e ousa comer dois pãezinhos por dia é obrigado a desembolsar R$ 36 a cada trinta dias, o que representa 5,79% do seu soldo mensal. Entre a teoria que brota nos gabinetes da Esplanada dos Ministérios e a dura realidade do cotidiano há uma vala que os próceres do governo preferem não enxergar.

A situação torna-se ainda mais preocupante quando analisamos o grau de endividamento das famílias brasileiras, que sensibilizadas diante dos irresponsáveis apelos de Lula foram às compras. De acordo com o Ipea, o contingente de famílias endividadas saltou de 46,5% em maio para 47% em junho. Contudo, o viés macabro dessa epopeia vermelha está no fato de que o Palácio do Planalto ignora a realidade sobre a inflação, que no dia a dia é muito mais dura do que apontam as pesquisas oficiais.

Antagonismos de uma sociedade

Enquanto o trabalhador brasileiro enfrenta o bambolê que é administrar o rico salário mínimo, a mais importante emissora de televisão do País abre espaço para uma ex-primeira-dama destilar sandices e dizer que é irrisória a pensão de R$ 18 mil que recebe do ex-marido, nesse caso o senador Fernando Collor de Mello.

Fora isso, causa espécie o fato de um candidato à presidência da República gastar o equivalente a US$ 300 milhões para chegar ao poder central e, depois de devidamente instalado, rasgar os próprios discursos e entender que o salário mínimo atual é uma inimaginável fortuna.

Esse comportamento antagônico é facilmente explicado pela incapacidade do Estado de pagara aos aposentados aquilo que lhes é devido, se não pela lei, pela lógica. Essa negação é deixar de reconhecer o valor dos aposentados, cidadãos que em passado não tão distante ajudaram a construir uma nação. Tirar dos aposentados o direito à vida digna mostra o lado canhestro de uma sociedade viciada em apenas olhar adiante, ignorando a grandeza do passado e de seus, digamos assim, heróis.