Coisas do tempo – Acusado de vários crimes (corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas), praticados a partir do superfaturamento das obras de construção da Avenida Águas Espraiadas, rebatizada como Jornalista Roberto Marinho, o ex-prefeito Paulo Maluf sempre negou ter contas bancárias no exterior, forma que encontrou para retardar uma decisão da Justiça.
O assunto foi tema de inúmeros e ruidosos protestos por parte do PT, mas isso não foi levado em conta no momento em que Lula buscou apoio para incensar a candidatura de Fernando Haddad, petista que disputará a prefeitura paulistana. O que é compreensível, pois os petistas perderam a vergonha, se é que em algum dia souberam do que se trata.
Advogados da offshore, alvo de complexo processo na Justiça da Ilha de Jersey, admitiram em documentos que a família de Paulo Maluf controlava contas na ilha britânica localizada no Canal da Mancha. Fora isso, os defensores dos Maluf reconheceram que o ex-prefeito e agora deputado federal recebeu “comissões” nessas contas.
Pedra no caminho
As investigações do caso passaram em um primeiro momento por Nova York, pois pela Grande Maçã passou boa parte do dinheiro desviado, o que levou a Justiça local a decretar a prisão de Paulo Maluf, que agora está na lista de principais procurados pela Interpol. Maluf, para seu azar, teve de enfrentar a experiência e a inflexibilidade do então promotor de Manhattan, Robert Morgenthau, já aposentado.
Em conversa com o editor do ucho.info, Morgenthau falou sobre outro escândalo de corrupção na prefeitura de São Paulo, que envolvia de forma indireta a figura de Maluf. Trata-se do caso de instalação de fibras óticas na cidade de São Paulo, obra que foi executada pela empresa norte-americana Metrored, então controlada pelo fundo de investimentos canadense Fidelity.
A Metrored, segundo apurou este site, contratou um escritório de lobby em Miami, pertencente a brasileiros, para corromper autoridades paulistanas, mas com a descoberta do caso os envolvidos acabaram na cadeia. A prisão se deu, principalmente, à sombra de uma lei federal dos Estados Unidos que considera crime a corrupção de autoridades no exterior, a Foreign Corruption Practice Act.
O caso Metrored também gerou um processo na Justiça paulista, com uma enorme lista de acusados e suspeitos. Em Nova York, os trabalhos da promotoria e da Justiça não cessaram enquanto os envolvidos fossem mandados para a cadeia, mesmo após acordo de delação premiada. Segundo consta, a empresa de lobby com endereço em Miami teria recebido US$ 10 milhões pelo serviço de corrupção.
Moralismo vermelho
Voltando ao Brasil, a reviravolta no caso de Maluf na Ilha de Jersey exige do líder do PT na Câmara dos Deputados, Jilmar Tatto (SP), alguma declaração, pois há dias o próprio petista cobrou o impeachment de Marconi Perillo, governador de Goiás, por ter supostamente mentido à CPI do Cachoeira. Ora, se Maluf negou durante anos a movimentação de dinheiro no exterior, ter reconhecido tal prática na última hora também é mentira. E sob a régua moralista de Jilmar Tatto, o deputado que está a apoiar Fernando Haddad merece perder o mandato parlamentar. Ou será que não, senhor Tatto?