Veto a resolução do Conselho de Segurança deve agravar a situação na Síria

Cronômetro acionado – Rússia e China vetaram, pela terceira vez, nesta quinta-feira (19), resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas de incluir o Capítulo 7 no texto sobre a Síria, que há dezesseis meses está sob um conflito que é verdadeira guerra civil. A proposta, apoiada pelos Estados Unidos, Alemanha e França, renova por 45 dias missão da ONU no país e ameaça com sanções o governo de Bashar al Assad no caso de uso de armamento pesado nos próximos dez dias.

O Capítulo 7 da Carta das Nações Unidas prevê ações, inclusive com o uso de força, em caso de “ameaça à paz, ruptura da paz e ato de agressão”. Foi com base do Capítulo 7 que o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou medidas contra o Iraque. Situação idêntica ocorreu em relação à Líbia, antes da ação militar internacional.

A situação da Síria, que piorou nas últimas horas, deve se agravar ainda mais, pois as posições contraditórias no Conselho de Segurança traduzem interesses de alguns países que integram o colegiado. Do lado dos EUA, Alemanha e França está a preocupação com a paz na região, pois a Síria faz fronteira com a Turquia (integrante da União Europeia), Israel, Líbano, Arábia Saudita e Iraque, além da proximidade com o Irã. Além disso, há nessa guerra civil que devasta a Síria interesses comerciais da indústria de armamentos. A situação se repete em relação à Rússia e China, que não apenas têm interesses comerciais, mas usam o país árabe como plataforma de contraponto geopolítico aos Estados Unidos.

O uso de armamentos pesado por parte do governo de Damasco, como forma de conter a ação dos oposicionistas, mostra que governo de Bashar al Assad está perdendo força e sua queda é uma questão de tempo. O bem sucedido ataque dos rebeldes na quarta-feira (18), que matou três destacados integrantes da cúpula do governo sírio, mostra a fragilidade que se instalou ao redor de Assad.

O governo de Damasco alega que a ação foi deflagrada por grupos terroristas, mas foi reivindicada pelo Exército Livre da Síria e pelo grupo rebelde Liwa al Islam (em português, Brigada do Islã). Em entrevista à rede CNN, o coronel Malek al Kurdi, do Exército Livre da Síria, disse que o atentado foi realizado com uma “bomba plantada dentro da sala de reuniões e disparada por um controle remoto” e não por um ataque suicida, como divulgado amplamente pela assessoria de Bashar Al Assad.

O atentado por si só fragilizou sobremaneira o governo da Síria, o que deve provocar desdobramentos nas próximas horas, uma vez que os conflitos continuam em todo o país. Se a operação ocorreu como relatou o coronel Malek al Kurdi, sua concretização só foi possível com a participação de alguém do círculo próximo de Bashar al Assad. No caso de ter ocorrido um ataque suicida, quem detonou os explosivos também contou com alguém próximo à cúpula do governo sírio.