(*) Ucho Haddad –
Quando reforço minhas críticas ao consumismo patrocinado pelo ex-presidente Luiz Inácio da Silva, o que pode ser classificado como um ato criminoso, sobram aduladores do messiânico Lula para me acusar de perseguição e intransigência. Não se trata de marcação cerrada, mas, sim, de analisar a conjuntura atual com olhar atento e crítico, sem perder a coerência e o discernimento.
Como verdadeiros oráculos do Senhor, os palacianos insistem em afirmar que a crise que nos abate tem solução. O maior defensor dessa tese mambembe, Guido Mantega, tenta convencer os brasileiros com conversa fiada. E é uma atrás da outra, sendo que o tempo, como sempre o senhor da razão, desmente uma a uma. Beira a irresponsabilidade imaginar que uma sociedade endividada será capaz de consumir a ponto de minimizar os efeitos colaterais da crise internacional que tem chacoalhado a União Europeia. É com base nessa teoria absurda e pirotécnica que Dilma Rousseff e seus assessores afirmam ter a derradeira solução para o estrago.
O bom da democracia é que manifestar o pensamento, mesmo sendo uma enorme besteira, é um ato livre e sem qualquer tipo de repressão, mas acreditar na pataquada alheia é decisão que cabe a cada um. E os que não se deixam levar por essas armadilhas de ocasião já perceberam que a situação é bem menos colorida do que anunciam os nossos governantes.
Empurrar o brasileiro ao consumo descontrolado foi a forma que Lula encontrou para camuflar o fiasco da política econômica de seu governo e esconder sua conhecida e histórica incapacidade como administrador público. De igual maneira essa sandice serviu para garantir a eleição de sua sucessora, Dilma Rousseff, que agora tenta se livrar da herança maldita que recebeu.
Por ocasião da campanha presidencial de 2010, Lula e sua candidata comemoraram à exaustão a chegada de 40 milhões de novos consumidores à chamada classe média, o que ocorreu por meio da concessão do crédito fácil, não pela geração individual de riqueza. O que Lula e Dilma conseguiram foi incutir no imaginário coletivo que crédito foi inventado para ser utilizado e que gastar é a ordem. A partir desse conceito obtuso e perigoso, os brasileiros saíram às compras e acumularam pilhas de carnês, muitos deles em situação de perigoso atraso no pagamento.
Pois bem, essa falsa sensação de poder de compra se instalou no subconsciente dos cidadãos e permitiu que o comércio passasse a agir de forma predatória. Alguém conta a fábula do tesouro perdido e os piratas saem atrás do eldorado, assim como o urubu busca a carniça. Tal cenário continua sendo patrocinado pelo crédito, sendo que muitos dos que consomem não têm condições de honrar as dívidas que contraem. Em outras palavras, o aludido poder de compra não passou de um castelo de areia que sumiu diante do primeiro vento forte. Detectar esse tipo de ação não precisa nenhum esforço do raciocínio, mas um pouco de atenção com detalhes recorrentes do cotidiano.
Na terça-feira (24), o cantor e cantor Pedro Mariano (filho de Elis Regina e César Camargo Mariano) se apresentou em um teatro da capital paulista, acompanhado por quatro músicos fiéis e competentes. Um ingresso para o show, nas últimas fileiras do teatro, foi vendido a R$ 60. Valor justo, se considerados alguns fatores como a complexidade da produção de um espetáculo, a justa remuneração do artista e de todo o seu entourage. Até então nada de anormal para um cantor do cacife de Pedro Mariano.
A parte preocupante da noite ficou por conta de detalhes, que revelam o estrago causado pela irresponsabilidade de Lula e seu ufanismo descontrolado. Para estacionar o carro era preciso desembolsar pelo menos R$ 15. Na entrada do teatro, um refrigerante era vendido a R$ 7, enquanto que um pote de pipoca era oferecido por R$ 18. Há nessa relação de preços algo desconexo, pois os valores travam um duelo inexplicável e covarde. Calculadora em punho, a conclusão a que se chega é que a parte acessória do show corresponde a quase 70% do preço do ingresso. Ora, tem algo muito errado nessa história, quem sabe não é estória.
Já ciente do estrago que o ex-metalúrgico deixou aos brasileiros, o qual exigirá cinco décadas para ser revertido, não é proibido concluir que Pedro Mariano está ganhando pouco ou o sujeito que vende pipoca no teatro tem vocação para saltimbanco. A noite não se transformou em epopeia porque a música era boa e a companhia adorável.
Dizem os mais experientes que quem canta os males espanta. Na qualidade de apaixonado confesso pela música sou o menos indicado para referendar o dito popular, mas, sendo verdadeiro, o mal que Lula nos deixou precisa de um cancioneiro inteiro, um brado retumbante e coletivo para desaparecer de vez.