Juiz do caso Cachoeira alega chantagem, mas não deu voz de prisão a Andressa Mendonça

Confusão de sobra – A acusação contar Andressa Mendonça, mulher de Carlinhos Cachoeira, perde a consistência com a citação do nome do jornalista Policarpo Júnior, da revista Veja, eventual autor de um dossiê sobre as atividades do juiz federal Alderico Rocha Santos, de Goiânia, responsável pelo processo decorrente da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal.

De acordo com Alderico Santos, Andressa, que foi recebida no gabinete magistrado, teria dito que o jornalista da Veja foi contratado por Carlinhos Cachoeira para produzir o tal dossiê e a não publicação dos documentos estava condicionada à soltura do contraventor. “Doutor, tenho algo muito bom para o senhor. O senhor conhece o Policarpo Júnior? O Carlos contratou o Policarpo para fazer um dossiê contra o senhor. Se o senhor soltar o Carlos, não vamos soltar o dossiê”, teria dito Andressa Mendonça, segundo o relato do juiz.

Se a organização de Carlinhos Cachoeira tem evidentes características mafiosas, como sugeriram os representantes do Ministério Público Federal de Goiás, em nenhuma hipótese Andressa Mendonça levaria esse tipo de recado ao juiz, por mais inocente que seja. Caso tenha atuado como porta voz da organização do marido, Andressa por certo foi orientada por pessoas experimentadas nesse tipo de ação. Em momento algum os profissionais do crime fazem declarações dessa natureza.

A ideia de inserir o jornalista Policarpo Júnior no escândalo tem Carlinhos Cachoeira proa surgiu no staff petista e foi reforçada pela ira que o senador Fernando Collor cultiva em relação à revista Veja. O fato de um jornalista conversar, pessoalmente ou por telefone, com uma fonte não significa que esteja envolvido com as atividades da mesma. Se isso for motivo para discussões nos meios policial e judicial, por certo mais da metade dos jornalistas políticos do País engrossará a fila dos suspeitos.

A simples menção do nome de Policarpo Júnior mostra que se trata de um enredo fantasioso que serve para tumultuar o julgamento do mensalão, reforçar a crítica situação de Carlinhos Cachoeira e complicar a vida do governador Marconi Perillo, de Goiás, um conhecido desafeto do ex-presidente Lula.

Até então não há provas da mencionada chantagem e muito menos do que teria dito Andressa Mendonça durante o encontro com o juiz Alderico Rocha Santos. O magistrado, como já mencionado pelo ucho.info, não deveria ter recebido Andressa Mendonça em seu gabinete, da mesma forma que deveria ter rechaçado o pedido de saída da testemunha. Sem gravação da conversa, sustentar a acusação contra a mulher de Cachoeira é tarefa complexa. E vale lembrar que mera suposição de quem acusa não configura prova.

A Polícia Federal, impulsionada pelo Ministério Público, deve realizar uma acareação entre Andressa Mendonça e o juiz Alderico Santos, mas a mulher do contraventor poderá, mais uma vez, permanecer calada e não produzir provas contar si, como determina a Constituição Federal. Independentemente da acareação, já ocorre nesse caso a inversão do ônus da prova, pois foi transferida a Andressa a incumbência de comprovar que não falou o que foi relatado pelo juiz.

O mais estranho nessa fábula é que o juiz Alderico Rocha Santos demorou três dias para relatar o ocorrido. Como se não bastasse, o juiz, por dever de ofício, deveria ter dado voz de prisão a Andressa Mendonça no momento da chantagem. Se não fez o que tinha direito é porque a história é muito mal contada. Lembre-se que não está em discussão da idoneidade do juiz Alderico Rocha Santos.