Direito à greve, direito ao serviço

(*) Carlos Brickmann –

Vamos, juntos, imaginar o avanço das tropas aliadas na Alemanha, nos dias finais da Segunda Guerra Mundial. Num determinado momento, o Conselho da Tropa informa que os soldados entraram em greve por aumento salarial e só retornarão aos combates depois que suas reivindicações forem atendidas.

Pode ou não pode? Pulemos algumas décadas, troquemos o Norte pelo Sul e veremos que agentes federais entraram em greve por aumento salarial, suspenderam o policiamento das fronteiras e colaram cartazes nos pontos de entrada do Brasil informando a contrabandistas e narcotraficantes que podem trabalhar à vontade, pois não serão reprimidos. Pode ou não pode?

A inabilidade do Governo Federal, que não se mexeu até a situação chegar a este ponto, levou o país a uma situação de perde-perde: se der o aumento pedido pelos funcionários em greve, não terá como pagá-los; se não der o aumento, a greve continuará gerando problemas insolúveis. Já há falta de remédios, por causa da greve da Anvisa; já há indústrias com problemas, por falta de componentes importados; as exportações também sofrem, porque estradas e aeroportos, que já não são lá essas coisas, funcionam ainda pior do que antes. Negociação? É com o mesmo pessoal que viu as universidades federais fecharem por três meses e não conseguiu negociar com os professores. E que é que o Governo propõe?

Depende: até agora, pagou direitinho o salário de quem não trabalhou. Hoje ameaça demiti-los. Vai da moleza ao confronto sem passar pela negociação.

Prepare seu coração

Os funcionários em greve rejeitaram até agora as propostas do Governo. Isso significa que estradas federais, postos de fronteira, aeroportos, fiscalização de importações e exportações, todos esses setores vão piorar, jogados às traças.

Tensão capital

Só isso? Não: o Movimento dos Sem-Terra resolveu promover manifestações em Brasília, o que obrigou a presidente Dilma Rousseff a deixar o Palácio do Planalto pela porta dos fundos, com a segurança em alerta total.

Juiz julga

Os réus do Mensalão estão sendo julgados no Supremo, e boa parte da opinião pública se comporta como torcida de futebol: se o ministro vota a favor de seus favoritos, é um jurista de primeira, votou tecnicamente, de acordo com as provas; se vota contra, é um sujeito horroroso, que atua partidariamente. Lembrar que, dos onze ministros do Supremo, a maioria absoluta foi nomeada pelo presidente Lula, é inútil: conforme o voto dos Meritíssimos no caso do Mensalão, ou demonstram sua independência ou foram nomeados apenas para proteger ladrões.

Assim não dá. Se o caso está sendo julgado, nada mais correto do que esperar que os juízes julguem. É correto, também, que tenhamos uma expectativa, uma torcida; mas sabendo que os ministros conhecem o caso melhor do que nós, têm conhecimentos jurídicos que não temos e são profissionais, enquanto somos amadores. Discordar, vá lá: mas, a menos que haja um voto tão absurdo que contrarie o senso comum, vale a pena ter respeito ao opor-se à opinião do juiz.

E sem esquecer que o bom senso não é exatamente o mais comum dos sensos.

A força eleitoral

O caro leitor não aguenta mais o horário eleitoral gratuito? Pois esta não é a opinião predominante: a estreia do programa com os candidatos à Prefeitura paulistana marcou 41,5 pontos no Ibope (num dia normal, a audiência é um pouco maior, 48 pontos). Até o chatíssimo programa dos candidatos a vereador deu bom ibope: 38 pontos. Dá para comparar a estreia dos candidatos à Prefeitura à audiência de um final de novela da Globo.

É aí que se decide a eleição.

A chatice eleitoral

Já o programa dos vereadores exige uma reforma urgente. Lembra um pouco a Lei Falcão, do regime militar: uma foto, uma frase, tchau. O candidato aparece, diz seu nome, promete lutar pelo povo, pela segurança, contra a doença e pela água tratada. Não dá para identificar quem é quem, nem diferenciar propostas. Em resumo, no formato atual só serve para gastar dinheiro público. É inútil.

Faça o que digo

Quase todos são a favor da Lei de Acesso à Informação, não são? Só que o Ministério Público, o Fiscal da Lei, o Advogado da Sociedade, a Justiça de Pé, não a cumpre. O cidadão Luiz Otávio da Rosa Borges enviou ofício ao Conselho Nacional do Ministério Público, na última quinta-feira, informando que o MP de São Paulo não implantou nenhum sistema de informações. Trata-se de um chato, com certeza. Ainda quer saber que providências o Conselho Nacional do Ministério Público está tomando para que o MP de São Paulo cumpra a lei!

O voo da alegria

Coluna Confidencial, do respeitado Aziz Ahmed, no Jornal do Commercio do Rio, sob o título Ninguém sabe: “Como ocorre todos os anos, uma caravana rolidei de parlamentares é organizada em Brasília rumo à Assembleia Geral da ONU, em Nova York.

Sobre a importância da ida dos deputados ao evento, a decana do colunismo (diplomático) Pomona Politis é irônica: ‘Não sei’.”