Hospedagem forçada – O fundador do Wikileaks, Julian Assange, refugiado na embaixada do Equador em Londres desde o dia 19 de junho, disse na quinta-feira (30), em entrevista à rede multiestatal Telesur e à equatoriana Gama TV, que deve ficar de “seis a doze meses” na representação diplomática, onde espera solução para o impasse sobre seu salvo-conduto. Ao mesmo tempo, segundo ele, o Wikileaks continua trabalhando e “está em processo de publicar 2,4 milhões de e-mails do governo da Síria”.
“Temos uma perspectiva interna”, disse. “É óbvio que potências ocidentais estão usando os problemas sírios para se livrarem da oposição política no país a mando de Israel e a fim de enfraquecer o Irã”, afirmou o jornalista australiano. Ele reiterou que está sofrendo “perseguição política”, assim como o Wikileaks, por expor milhares de documentos confidenciais. “Se você for contra os Estados Unidos, algo de ruim vai acontecer com você”, disse.
Assange é esperado na Suécia para responder a alegações de estupro, mas teme que uma extradição ao país possa desencadear uma segunda extradição, desta vez para os Estados Unidos, onde responderia por supostamente vazar documentos do Exército norte-americano sobre suas operações no Iraque e Afeganistão.
No dia 17 de junho, o presidente do Equador, Rafael Correa, concedeu asilo político a Assange e, ao mesmo tempo, enfureceu os governos de Suécia, Reino Unido e Estados Unidos. O fundador do Wikileaks nega as acusações. Seus advogados, que buscam vias jurídicas para conseguir o salvo-conduto, afirmam que não há garantias do governo sueco para um julgamento justo.
Assange disse acreditar que uma solução diplomática é possível para que obtenha liberdade, mas não descartou algum evento imprevisível de porte mundial, como uma guerra com o Irã, o resultado das eleições nos Estado Unidos ou, ainda, um eventual recuo do governo sueco, que poderia desistir do caso – hipótese mais provável, de acordo com o jornalista.
Embaixada
Enquanto isso, ele continua no prédio da embaixada do Equador em Londres, na região de Knightsbridge, com acesso à internet, cama e chuveiro. Ativistas fazem vigília em frente à representação diplomática desde junho para registrar a movimentação policial. Há menos de um mês o governo britânico ameaçou prender Assange dentro da embaixada, com base em uma lei local de 1987. O intento foi rechaçado pela OEA, Alba e Unasul, que pediram respeito à Convenção de Viena, garantidora da inviolabilidade do imóvel diplomático.
O chanceler britânico William Hague, que descarta o salvo-conduto a Assange, disse ontem que uma decisão está longe de ser tomada e que as conversas diplomáticas com o Equador continuam. Durante a entrevista, o fundador do Wikileaks agradeceu novamente ao governo equatoriano por sua decisão de conceder asilo.
“Em um contexto mais amplo, o Equador tem sido correto em mostrar seus valores nesse caso. Não só em me conceder asilo, mas também ao conceder asilo àqueles que merecem – tem a capacidade econômica de fazê-lo. E também por ter dado um passo adiante ao defender meus direitos, porque meus direitos são correlatos aos valores que o Equador quer projetar”, afirmou Assange. (Do Opera Mundi)