Dos males o menor – Logo mais, o Supremo Tribunal Federal retoma o julgamento do Mensalão do PT (Ação Penal 470). Na sessão desta segunda-feira (3), o ministro-revisor Joaquim Barbosa continuará a leitura do seu voto, referente ao segundo dos sete blocos do julgamento. Na alça de mira da Corte está o grupo financeiro do maior escândalo de corrupção do País, formado por quatro ex-executivos do Banco Rural: Kátia Rabelo, José Roberto Salgado, Vinícius Samarane e Ayanna Tenório.
Em seu voto, o ministro Joaquim Barbosa deve pedir a condenação do quarteto por gestão fraudulenta de instituição financeira, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e formação de quadrilha. De acordo com denúncia da Procuradoria-Geral da República, o grupo desrespeitou as normas bancárias básicas ao conceder empréstimos ao Partido dos Trabalhadores, além de ignorar as normas estabelecidas pelo Banco Central.
Tanto na denúncia quanto no voto do relator, fica claro que os empréstimos concedidos pelo Banco Rural ao PT foram fictícios, não fraudulentos. As operações financeiras, feitas a uma pessoa jurídica insolvente à época, neste caso o PT, e com avalistas (José Genoino e Delúbio Soares) desprovidos de patrimônio à altura da dívida e sem condições de honrar os aludidos empréstimos, foi uma forma de legalizar o dinheiro imundo que regou o mensalão.
O cenário do julgamento do núcleo financeiro do Mensalão do PT só não é pior porque à época da CPI dos Correios o Palácio do Planalto operou nos bastidores para interromper as investigações e evitar o pior.
Como já noticiado pelo ucho.info, se a CPI dos Correios tivesse avançado nas investigações, por certo o escândalo seria muito maior. No rastro dessas operações fictícias está o repatriamento do dinheiro proveniente das propinas arrecadadas em Santo André e que levaram ao cruel assassinato do então prefeito da cidade do ABC paulista, o petista Celso Daniel. A prova maior dessa evasão de divisas ficou evidente com o depoimento de Duda Mendonça à CPI, ocasião em que conformou aos parlamentares ter recebido em conta bancária no exterior parte dos honorários da campanha presidencial petista de 2002.
Fora isso, as agências de publicidade de Marcos Valério Fernandes de Souza serviram de rota de passagem para o dinheiro de alarifes interessados em subornar integrantes do governo. Campanhas publicitárias superfaturadas foram criadas como forma de dar suposta legalidade à operação criminosa. Contudo, ainda causa estranheza o fato de o principal financiador dessa operação ter ficado de fora das investigações e, por consequência, da denúncia oferecida pela Procuradoria-Geral da República.
Independentemente do julgamento do Mensalão do PT, o Ministério Público Federal deveria se dedicar a entender o esquema de repatriação do dinheiro que escorria nos subterrâneos da administração de Celso Daniel, morto porque discordou do destino dado ao produto das propinas.