O manto diáfano da notícia

(*) Carlos Brickmann –

1 – A senadora Marta Suplicy, principal nome do PT paulista, foi vetada por Lula para a Prefeitura de São Paulo. Lula impôs ao partido o nome de Fernando Haddad. Marta se recusou, então, a participar da campanha: imagine, ela ao lado de Paulo Maluf! Justo ela, ao lado do segundo maior padrinho de Haddad?

Versão oficial: Lula conversou com Marta e convenceu-a a entrar na campanha, pelo bem do partido, do povo, dos pobres, dos fracos e oprimidos.

Versão crua: Ana de Hollanda deixa o Ministério da Cultura e Marta Suplicy foi convidada para substituí-la. É a militante se sacrificando pelo partido.

2 – A CPI do Cachoeira avançava e ganhava algum espaço na opinião pública, mesmo concorrendo com o grande espetáculo do julgamento do Mensalão. O alvo principal do PT, o governador goiano Marconi Perillo, do PSDB, estava sofrendo grande desgaste. De repente, a CPI do Cachoeira foi suspensa.

Versão oficial: como as eleições municipais são hoje a grande preocupação de todos os políticos, é bobagem tentar manter a CPI funcionando. É melhor deixá-la em vida vegetativa, esperando calmamente a volta dos políticos ao trabalho.

Versão crua: um dos próximos passos da CPI, praticamente obrigatório, seria quebrar o sigilo de sete empresas suspeitas de atuar como laranjas. Destas empresas, supõe-se, sairiam os recursos responsáveis pela manutenção de dezenas de campanhas eleitorais. E isso ninguém quer: pelo que dizem, a distribuição de recursos é bastante ampla e atinge campanhas dos mais diversos partidos.

Como não disse Nelson Rodrigues, é a política como ela é.

País do futuro

Frase absolutamente impecável, enviada por assídua leitora desta coluna:

“O fim do mundo em 2012 foi cancelado no Brasil, pois o país não tem estrutura para receber um evento deste porte”.

O nó dos professores

O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, escreveu artigo desancando um velho companheiro de PT, o governador gaúcho Tarso Genro, por se recusar a pagar no Rio Grande do Sul o piso nacional dos professores. Tarso rebateu duro, dizendo que os argumentos de Mercadante seriam aceitáveis se usados por quem desconhece o problema, mas que um ministro tem de saber que estão errados.

Uma curiosidade: quando o piso nacional dos professores foi aprovado, o ministro da Educação era Tarso Genro. Na campanha pelo Governo gaúcho, Tarso Genro se comprometeu a pagar o piso – promessa que agora se recusa a honrar.

E de quanto é este piso que provoca uma briga entre dois luminares do PT? É uma fortuna: R$ 1.451 mensais para os professores da rede pública.

Iluminando a luz

Feliz com a redução da conta de luz? Então, analisemos: a tarifa média doméstica brasileira é de R$ 0,333 o kW/h. O valor do desconto varia muito conforme a fonte da notícia. Imaginemos então 20% – mais do que os 16,2% citados majoritariamente por fontes oficiais. Os R$ 0,333 cairão para aproximadamente R$ 0,267. É bem mais do que custa a energia elétrica nos Estados Unidos (R$ 0, 232) e no México (R$ 0,178). Este é um dos motivos pelos quais os produtos mexicanos, mesmo pagando frete, chegam aqui mais baratos que os brasileiros.

A lei? Ora…

Celso Lungaretti, candidato a vereador em São Paulo, decidiu fazer campanha com pouco dinheiro, o suficiente para imprimir folhetos com seu nome e número. Com duas pequenas doações, foi à Caixa Econômica Federal abrir uma conta jurídica eleitoral. Negativo: o gerente só admitia liberar o talão de cheques havendo um depósito mínimo de R$ 500. Como conta de campanha eleitoral tem de ser paga obrigatoriamente em cheque, a recusa o impede de fazer despesas.

Lungaretti foi à Ouvidoria da Caixa, deixou mensagens no tal Fale Conosco, telefonou – sem êxito. No entanto, o artigo 22 da Lei 9.504, de 30/9/97, determina que os bancos abram obrigatoriamente conta destinada à movimentação financeira de qualquer partido ou candidato escolhido em convenção, “sendo-lhes vedado condicioná-la a depósito mínimo”. A conta deve ser aberta em três dias.

Lungaretti se queixou ao TSE. Mandaram-no recorrer à Ouvidoria da Caixa.

…a lei

Coisas de Brasil. Um advogado leitor desta coluna tentou fazer alguns pagamentos em dinheiro e o banco os rejeitou: queria cheques. Por lei, a moeda tem curso forçado. Mas não houve como convencer os cabeças-duras: talvez só entrando na Justiça.

Quem manda acreditar que a lei é para ser cumprida?

E a festa continua

O caro leitor já ouviu falar do esforço do Governo para reduzir despesas. Pois, para o ano que vem, está prevista a contratação de 61.682 novos servidores públicos federais, ao custo de R$ 5,1 bilhões. A folha de pagamento dos três Poderes estará próxima de R$ 240 bilhões – talvez um pouco a mais, nunca um pouco a menos. É claro que a contratação de novos funcionários não exige dinheiro apenas para os salários: há também a infraestrutura para acomodá-los, transporte, vales diversos, diárias, essas coisinhas de sempre.

Não faz mal: a gente paga.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.