Políticos: perdidos na rede

(*) Leonardo Araújo, do AdNews –

Marshall Mcluhan (1911-1980), filósofo e educador canadense, dizia que o “meio é a mensagem”. Partindo deste princípio, o que será que as redes sociais querem nos passar? Que as pessoas não acreditam mais em propaganda e sim em pessoas? Que se é gratuito, nós somos o produto? Talvez. O que fica claro é que alguns políticos ainda não acreditam neste meio como uma forma eficaz para alcançar seus eleitores.

De acordo com a segunda prestação parcial de contas divulgada pelo Tribunal Superior Eleitoral, os candidatos à Prefeitura de São Paulo não apostam suas fichas na internet, e consequentemente, nas redes sociais. Para comparação: o total de investimento direcionado para a “criação e inclusão de páginas na internet” somando todos os candidatos é menor do que os gastos do petista Fernando Haddad para a “produção de programas de rádio, televisão ou vídeo”.

Celso Russomano, do PRB, por exemplo, declarou R$ 33 mil em investimentos para internet. Na TV, o candidato apresentou contas que atingem R$ 160 mil. Paulinho da Força, PDT, gastou R$ 4 mil na criação de páginas, contra R$ 200 mil para produção de programas. “É uma mídia mais complexa para se trabalhar, uma vez que você precisa construir relacionamento com o eleitor, criar conteúdo e investir em capital social”, quem faz a observação é Raquel Recuero, professora e pesquisadora da UCPel e consultora na área de redes sociais na internet.

Raquel, que também é autora do livro “Redes Sociais na Internet”, coordena um grupo que monitora os efeitos das mídias sociais nas eleições em Pelotas/RS. Sua pesquisa aponta que os debates virtuais podem influenciar no voto dos eleitores. “Mensagens negativas e positivas acabam criando sim percepções nas pessoas e, inclusive, muitas vezes, levando a declarações de apoio e não apoio que vão influenciar outros”, analisa.

Para Gil Giardelli, autor de “Você é o que você compartilha”, o comportamento dos usuários influencia diretamente o desprezo dos candidatos para este meio. “A grande massa ainda enxerga a internet apenas como um local para trocar amenidades, e não para conversar sobre coisas sérias. Ou seja, realmente ser um webcidadão”, explica. Professor na ESPM, CIC e FIA-USP, Giardelli complementa dizendo que vivemos um desconhecimento total de como a sociedade em rede pode trazer inovação para um país.

Tal inovação poderia alcançar até mesmo o nosso meio-ambiente. Basta observar que, por exemplo, o candidato Carlos Giannazi, do PSOL, gastou 80 vezes mais com “Publicidade por placas, estandartes e faixas” do que com internet. O problema é que os políticos conhecem menos a internet do que os meios tradicionais, com os quais estão habituados. A opinião é de Martha Gabriel, diretora de tecnologia da New Media Developers e coordenadora/professora do curso de MBA em Marketing da HSM Educação.

Redes sociais: poderosas, mas nem tanto

Segundo o IBGE, somos 194 milhões de brasileiros, a mesma instituição aponta mais de 80 milhões de cidadãos tupiniquins conectados à rede mundial de computadores. O alcance da rede é enorme, mas a TV e outros meios ainda dominam as apostas das campanhas. Os políticos acreditam que “os meios tradicionais atingem mais gente, o que, de alguma forma, é verdadeiro”, explica Carolina Terra, autora de “Mídias sociais… e agora?”.

“O carro chefe ainda é a mídia tradicional, sobretudo a TV”, esclarece Carolina que acredita num maior investimento em internet nos próximos anos, pois a audiência da rede tende a aumentar e a se popularizar.

Já Raquel reflete sobre o velho paradigma emissor-receptor para tentar explicar a falta de investimentos na rede. “A mídia tradicional permite pouco ou nenhum feedback, o que facilita em certa medida o controle daquilo que é emitido no veículo”, analisa.

Planejamento é a chave

Somadas as prestações de conta para o meio, os candidatos à prefeitura de São Paulo declararam R$ 1.843 milhões. Em 2008, quando Barack Obama mudou os modelos das campanhas políticas mundo afora, o atual presidente dos EUA gastou mais de US$ 16 milhões em publicidade. Guardadas as proporções, o democrata ainda é um famoso case de sucesso nas redes sociais graças ao seu desempenho naquele ano. Segundo Martha, o “Case Obama” ainda traz diversos ensinamentos valiosos para qualquer político, apesar do cenário atual ser completamente distinto de 2008. Porém a professora ressalta que o êxito só foi possível graças ao seu planejamento.

Raquel lembra que é “preciso investir em conhecimento, em ação e em relacionamento, gerando também planos para crises”.

Martha avalia que as redes sociais exigem capacitação constante dos profissionais que atuam com comunicação e marketing. “As empresas estão cada vez mais atentas para isso”, alerta.

Tiririca: um case de sucesso

Poucas ações conseguem virar meme. Pouquíssimas quando o assunto são empresas. Menos ainda quando o tema é política e seus protagonistas. Em 2008, a web brasileira se viu em meio a um novo fenômeno. O então candidato a deputado federal, Tiririca, ganhou as redes com seu slogan: pior do que está não fica. Seu vídeo de campanha e seus tuítes bem humorados foram compartilhados por milhares de internautas.

O fenômeno dos memes – que poderia ser definido como o processo de propagarmos comportamentos – impressiona quando comparado ao dos políticos. Vejamos o vídeo de Nissim Ourfali, o garoto judeu que fez um vídeo para comemorar seu Bar Mitzvah – cerimônia que insere o jovem judeu como um integrante pleno da comunidade judaica – e caiu nas graças da web. Lançado em agosto, ele já possui mais de 3 milhões de visualizações. Para comparação: o vídeo mais visto no canal de Haddad no Youtube tem pouco mais de 30 mil views.

De acordo com Giardelli, para ser um meme, é preciso ser espontâneo. “Meme, é algo que ganha força com o passar do tempo, e as candidaturas ainda são muito imediatistas e não possuem um humor refinado”, afirma o autor.

Não existem fórmulas infalíveis para se criar memes ou virais, “eles são determinados por vários fatores”, conforme explica Martha. Para Raquel, tentar criar um “candidato meme” é algo que precisa “muito bem pensando”.

O certo é que se ainda estamos em nossa infância digital, como cita Giardelli, talvez, os políticos brasileiros estão lutando para deixarem suas fraldas.