São Paulo vale mil rezas

(*) Carlos Brickmann –

Há mais de 400 anos, o líder protestante francês Henrique de Navarra estava num impasse: havia derrotado seus inimigos internos, mas o papa o excomungara por não ser católico, e países católicos vizinhos, como a poderosa Espanha, tinham força militar suficiente para impedi-lo de chegar ao poder. Henrique de Navarra decidiu converter-se ao catolicismo, com uma frase célebre: “Paris bem vale uma missa”. E conseguiu ocupar o trono francês sem maiores problemas.

História velha? Nem tanto: em São Paulo, a disputa pela maior Prefeitura do país se transforma num embate mais religioso que político. O chefe da campanha de Celso Russomanno, líder nas pesquisas, é Marcos Pereira, pastor da Igreja Universal do Reino de Deus – a mesma que, há anos, virou manchete quando seu bispo Sérgio van Helde chutou a imagem de Nossa Senhora Aparecida. Pois descobriu-se um texto delirante em que Marcos Pereira ataca a Igreja Católica pelo kit gay – um material que não chegou a ser distribuído, mas produzido pelo Ministério da Educação do ministro Fernando Haddad (hoje candidato do PT à Prefeitura), para combater a discriminação aos homossexuais, mas que, segundo seus adversários, incentivava o homossexualismo.

Onde está o texto? Na página da Internet do bispo Edir Macedo, líder da Universal e suporte básico de Russomanno. A Igreja Católica se manifestou contra Pereira.

A ministra da Cultura, Marta Suplicy, do PT, católica não praticante, acaba de dizer que Lula é Deus.

Alguém poderia contar aos candidatos que estamos no século 21?

Os bons companheiros

1 – Fernando Haddad, candidato do PT e de Maluf à Prefeitura paulistana, disse que Maluf “não vai levar nada”. Tem razão: quem vai levar somos nós.

2 – O presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, está irritado porque Dilma palpita na eleição paulistana. Bobagem: se Dilma fala, é porque a Justiça Eleitoral deixa. Por que ele, Guerra, não traz também seu prestígio à campanha?

3 – Lula e o governador pernambucano Eduardo Campos, seu amigo-inimigo, encontram-se para trocar abraços. Mas há muito tempo não cortam as unhas.

Dinheiro que aparece

Estudar declarações de bens dos candidatos ensina muito. Celso Russomanno, por exemplo, multiplicou seu patrimônio por dois entre 2010 e 2012. Virou sócio de um bar em construção, em Brasília, e não vai colocar dinheiro: paga sua parte administrando o estabelecimento. E se ganhar a eleição e não tiver tempo de administrá-lo?

Sem problemas: prefeito, poderá sem dúvida integralizar o capital.

Dinheiro que não aparece

Um se transforma em sócio de um empreendimento com dinheiro que não tem; e há quem vire sócio de um empreendimento com dinheiro que tem, mas não investe nem com reza brava.

Um grande acordo entre os presidentes Lula e Hugo Chávez selou a sociedade entre a Petrobras e a PDVSA, a estatal venezuelana de petróleo, para a construção de uma refinaria em Pernambuco. A refinaria, em homenagem a um general brasileiro que lutou ao lado do venezuelano Simon Bolívar nas guerras de independência da América Espanhola, foi chamada de Abreu e Lima; e teria equipamento especial para refinar petróleo venezuelano, mais pesado. Pois bem: a refinaria está quase pronta (e seu custo se multiplicou por dez); a PDVSA não colocou um único centavo; mas a Petrobras comprou o tal equipamento especial de refino, por sua conta. A PDVSA não se nega a investir, desde que seja dinheiro brasileiro: quer que o BNDES lhe empreste o que for necessário, a juros de Hermano para Hermano.

O BNDES até topa, mas a PDVSA não oferece garantias de pagamento. Este colunista também reivindica uma participação na refinaria, desde que com as mesmas condições da PDVSA.

Cem anos de perdão

O mundo gira. O banqueiro americano Bradley Birkenfeld passou dois anos e meio na cadeia, por montar um esquema de transferência clandestina de dinheiro para a Suíça. Foi libertado há pouco mais de um mês – e recebeu US$ 104 milhões do equivalente americano à Receita Federal por revelar alguns segredos do sistema bancário da Suíça e denunciar clientes de um grande banco suíço que sonegaram imposto de renda com sua ajuda. Nem pense nisso, que no Brasil é impossível: se tudo quanto é bandido que comanda esquemas de evasão de divisas der com a língua nos dentes, não haverá dinheiro suficiente para recompensá-los.

Problemas chegando

Sindicatos de bancários de todo o país decidiram iniciar greve geral, por tempo indeterminado, a partir desta terça, 18. Motivo da greve: aumento salarial. Segundo dizem os bancários, a oferta patronal é de 6%, o que significa 0,58% de aumento real, e não há qualquer abertura para novas propostas.

Amanhã, 17, haverá novas reuniões para organizar o movimento e eventualmente avaliar novas propostas que possam ser enviadas pela Federação Nacional dos Bancos.

Coincidência

Essas coisas acontecem, né? Foi só Chico Buarque de Holanda apoiar a candidatura de Marcelo Freixo, do PSOL, à Prefeitura do Rio, contrariando a posição oficial do PT, que sua irmã Ana de Hollanda foi demitida do Ministério.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.