(*) Carlos Brickmann –
O Brasil, há 67 anos, abre a Assembléia Geral da ONU. E desde o segundo ano (dizem que no primeiro, com o estadista gaúcho Oswaldo Aranha representando o país, o discurso foi denso e relevante), ninguém mais prestou atenção, exceto no Brasil, ao que dizem os presidentes brasileiros.
Dilma Rousseff manteve a tradição: defendeu a paz, condenou a guerra, defendeu o bem, condenou o mal. Disse (com toda a razão) que não há solução militar para o conflito sírio e pediu a todos que deponham as armas. Os participantes do conflito certamente levarão o pedido em conta assim que pararem de rir.
Diplomacia e diálogo são as únicas possibilidades no caso sírio, disse Dilma. É verdade; mas quais os limites, a orientação, qual o papel do Brasil nesse diálogo? Isso ficou para depois: algum dia, quem sabe, todos esses segredos da mais alta diplomacia serão revelados ao mundo embasbacado.
Mas não se limitou Sua Excelência à alta política internacional. Falou da importância de criar medidas para evitar o aumento do número de mortes de jovens em acidentes de trânsito (já pessoas de mais idade certamente não precisam de segurança); da busca dos países americanos pela democracia; e, claro, apesar do item anterior, da defesa do regime castrista em Cuba, que já dura mais de 50 anos sem que se perca tempo com a formalidade de eleições, essas bobagens. E, aproveitando a tribuna, condenou a política monetária dos países desenvolvidos.
Enfim, um discurso sem o qual o mundo seria tal e qual.
Ecce homo
O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, deu suas opiniões – que horror! em Nova York, em entrevista à CNN. Em sua opinião, “apoiar a homossexualidade é coisa de capitalistas de linha dura, que não se preocupam com os legítimos valores humanos”. Disse que o homossexualismo “é um comportamento muito desagradável”, condenado “por todos os profetas de todas as religiões e todas as fés”. E criticou os políticos que, segundo ele, apoiam gays e lésbicas “apenas para ganhar quatro ou cinco votos a mais”. E negar aos homossexuais o direito à sua orientação, diz Ahmadinejad, não é negar a liberdade. “Quem disse isso?”
Só esqueceu uma frase de sua cartilha homofóbica: a de que no Irã não existem homossexuais. Existem, já que várias pessoas foram enforcadas em praça pública sob essa acusação; mas, oficialmente, não existem. Ou já foram mortos.
Coisa feia
O presidente do Santos, Luiz Álvaro de Oliveira Ribeiro, tem seus motivos para ficar irritado com o jogador Ganso, que forçou sua saída do clube. Mas não deveria dizer o que disse ao repórter Jamil Chade, de O Estado de S.Paulo, em Zurique: que a contusão do jogador, em sua opinião, “é incurável”.
Primeiro, porque não tem direito de fazer comentários sobre problemas particulares de uma pessoa, que ainda por cima nem está mais ligada a seu clube; segundo, porque não é médico, e lhe falta qualificação técnica para palpitar sobre contusões; terceiro, porque se vangloria de ter enganado o São Paulo, para quem vendeu os direitos econômicos do jogador. E é um ex-banqueiro!
Palavras ao vento
Faz tão pouco tempo! Em discurso com que respondeu a um artigo de Fernando Henrique, a presidente Dilma Rousseff disse ter recebido de Lula uma herança bendita – entre outros motivos, “um país sem apagões”. E aí ocorreu o grande apagão do Nordeste, atingindo algo como cinco milhões de pessoas em seis Estados. E já se sabe o motivo: em 2012, a Eletrobrás investiu 20,8% do que estava previsto – pouco mais de um real para cinco necessários. No primeiro semestre, os investimentos da Eletrobrás foram de R$ 2,1 bilhões, contra R$ 10,3 bilhões que constam no orçamento. A média é péssima, mesmo considerando-se que a estatal jamais aplicou toda a previsão orçamentária: de 2000 para cá, a melhor execução foi de 80%, e a média é de 70%.
Há problemas; mas não seriam suficientes para provocar o apagão se os investimentos tivessem sido feitos.
Censor Protógenes
Lembra do deputado Protógenes Queiroz, do PCdoB de São Paulo, eleito com a sobra de votos de Tiririca? Pois bem: o deputado Protógenes, delegado da Polícia Federal, ficou indignado com o filme Ted, cujo astro é um ursinho de pelúcia, e anunciou que vai pedir aos ministérios da Justiça e da Cultura que suspendam sua exibição. A Constituição proíbe a censura? Isso não preocupa o deputado; “Este filme não poderia ser liberado. Não deve ser veiculado em cinemas”.
Dizem que é fácil sair da Polícia. Difícil é deixar a Polícia sair de si.
Quem são os ladrões?
Dez funcionários da organização Rio-2016, que coordena os Jogos Olímpicos do Rio, furtaram informações confidenciais do comitê Londres-2012, que organizou os jogos da Inglaterra. É um fato reconhecido – tanto que os dez foram demitidos. Só que a organização local dos Jogos Olímpicos não informa quem foi demitido, nem quem são seus chefes, nem por que não houve denúncia às autoridades.
Se até as Excelências que participaram do Mensalão estão sendo julgadas, por que motivo todo esse segredo na ladroeira das Olimpíadas?
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.