Condenado por corrupção ativa, José Dirceu critica decisão do STF e usa o passado em seu favor

Fios trocados – No dia em que um réu condenado pela Justiça reconhecer como justa a pena que lhe foi imposta, esteja certo que o mundo está perto do fim. Até porque, todo culpado sempre se diz inocente. E não poderia ser diferente com José Dirceu de Oliveira e Silva, o camarada Daniel, e José Genoino Neto, ambos condenados por corrupção ativa, pela maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal, na Ação Penal 470 (Mensalão do PT).

Logo após ser condenado, no final da tarde de terça-feira (9), José Dirceu postou em seu blog uma carta ao povo brasileiro em que externa disposição para provar sua inocência. “Lutei pela democracia e fiz dela minha razão de viver. Vou acatar a decisão, mas não me calarei. Continuarei a lutar até provar minha inocência. Não abandonarei a luta. Não me deixarei abater”, escreveu o ex-chefe da Casa Civil no governo Lula.

Como forma de minimizar a condenação, Dirceu usou o passado para justificar o presente, destacando sua participação na luta contra a ditadura militar. “Em 1969 fui banido do país e tive a minha nacionalidade cassada, uma ignomínia do regime de exceção que se instalara cinco anos antes. Voltei clandestinamente ao país, enfrentando o risco de ser assassinado, para lutar pela liberdade do povo brasileiro. Por 10 anos fui considerado, pelos que usurparam o poder legalmente constituído, um pária da sociedade, inimigo do Brasil. Após a anistia, lutei, ao lado de tantos, pela conquista da democracia. Dediquei a minha vida ao PT e ao Brasil”, afirmou Dirceu.

José Dirceu pode afirmar o que bem quiser a respeito do seu passado, mas a sua luta de então pela liberdade tinha o mesmo objetivo encampado atualmente pelo Partido dos Trabalhadores. O de instalar no País uma ditadura de esquerda, que à época malogrou porque a direita foi mais rápida e instalou sua própria ditadura. E, lembre-se, qualquer regime de exceção é absolutamente condenável.

Em outro trecho da nota, José Dirceu escreve: “Fui prejulgado e linchado. Não tive, em meu benefício, a presunção de inocência. Hoje, a Suprema Corte do meu país, sob forte pressão da imprensa, me condena como corruptor, contrário ao que dizem os autos, que clamam por justiça e registram, para sempre, a ausência de provas e a minha inocência”.

Pois bem, o melhor que um cidadão pode fazer para si mesmo é manter-se abraçado à coerência. Por um lado, a Procuradoria-Geral da República e a maioria dos ministros do Supremo garantem que sobram provas contra José Dirceu, mas por outro o próprio acusado e seus defensores afirmam o contrário.

Ora, não se pode querer para outrem o que não se quer para si. Por ocasião do escândalo dos “Anões do Orçamento”, o mesmo José Dirceu, então deputado federal pelo PT, ocupou a tribuna da Câmara para defender a cassação do mandato do já falecido Ricardo Fiúza (PFL-PE), acusado de envolvimento no imbróglio. O petista, do alto de sua conhecida arrogância debochada, disse que para cassar um mandato não era preciso provas, mas apenas evidências. É verdade que Fiúza foi absolvido em plenário por seus pares, o que gera certa desconfiança, mas Dirceu foi condenado pela maioria dos integrantes da mais alta Corte da Justiça nacional.

Como sempre acontece quando algo ocorre contra os desejos dos atuais ocupantes, a condenação de José Dirceu decorreu de uma operação orquestrada da imprensa. A mesma imprensa que no passado ele procurava insistentemente para atacar seus adversários de sempre.

Confira abaixo a nota divulgada por José Dirceu de Oliveira e Silva após sua condenação no STF

“AO POVO BRASILEIRO

No dia 12 de outubro de 1968, durante a realização do XXX Congresso da UNE, em Ibiúna, fui preso, juntamente com centenas de estudantes que representavam todos os estados brasileiros naquele evento. Tomamos, naquele momento, lideranças e delegados, a decisão firme, caso a oportunidade se nos apresentasse, de não fugir.

Em 1969 fui banido do país e tive a minha nacionalidade cassada, uma ignomínia do regime de exceção que se instalara cinco anos antes.

Voltei clandestinamente ao país, enfrentando o risco de ser assassinado, para lutar pela liberdade do povo brasileiro.

Por 10 anos fui considerado, pelos que usurparam o poder legalmente constituído, um pária da sociedade, inimigo do Brasil.

Após a anistia, lutei, ao lado de tantos, pela conquista da democracia. Dediquei a minha vida ao PT e ao Brasil.

Na madrugada de dezembro de 2005, a Câmara dos Deputados cassou o mandato que o povo de São Paulo generosamente me concedeu.
A partir de então, em ação orquestrada e dirigida pelos que se opõem ao PT e seu governo, fui transformado em inimigo público numero 1 e, há sete anos, me acusam diariamente pela mídia, de corrupto e chefe de quadrilha.

Fui prejulgado e linchado. Não tive, em meu benefício, a presunção de inocência.

Hoje, a Suprema Corte do meu país, sob forte pressão da imprensa, me condena como corruptor, contrário ao que dizem os autos, que clamam por justiça e registram, para sempre, a ausência de provas e a minha inocência. O Estado de Direito Democrático e os princípios constitucionais não aceitam um juízo político e de exceção.

Lutei pela democracia e fiz dela minha razão de viver. Vou acatar a decisão, mas não me calarei. Continuarei a lutar até provar minha inocência. Não abandonarei a luta. Não me deixarei abater.

Minha sede de justiça, que não se confunde com o ódio, a vingança, a covardia moral e a hipocrisia que meus inimigos lançaram contra mim nestes últimos anos, será minha razão de viver.

Vinhedo, 09 de outubro de 2012.”