Reação de Dirceu é “jus esperniandi” que não pode virar ação política, afirma Roberto Freire

Operação orquestrada – “É um jus esperniandi que a sociedade não pode permitir que se torne ação política”, definiu o presidente nacional do PPS, Roberto Freire (SP), ao analisar as declarações do ex-ministro José Dirceu (PT) após ser condenado por corrupção ativa pelo Supremo Tribunal Federal. O parlamentar afirmou que é “inconcebível” que o esperneio de Dirceu instrumentalize a CUT (Central Única dos Trabalhadores) e o movimento sindical. “Tem que haver reação da sociedade democrática”.

Freire disse ainda que agora cabe à cidadania cumprir seu papel, de dar prosseguimento ao trabalho executado pelo STF de construir uma sociedade em que a impunidade não seja a regra e em que poderoso não esteja acima da lei. “Não adianta reclamar que a política é suja, se, no momento apropriado não se contribui para que ela seja séria e limpa; é preciso votar bem, se posicionar corretamente no dia a dia, nos pronunciamentos públicos, em todas as ações”.

Heróis?

Freire ironizou o fato de Dirceu e o ex-presidente do PT, José Genoino, se considerarem heróis do povo brasileiro. “Aí não podemos ter contemplação; é melhor ficarmos com Macunaíma do que imaginar que alguma dessas figuras possa ser herói do povo brasileiro”. “Merecemos muito mais”, afirmou.

Sobre a defesa do controle da mídia e do judiciário, que fez Dirceu, após ser condenado, Freire afirmou: “Isso também era parte do plano (do PT, com o mensalão); não era apenas corromper partidos políticos e parlamentares, era também controlar todas as instituições democráticas. Isso era parte da estratégia de permanência no poder”.

Refundação e autocrítica

Freire acredita que o PT precisa passar “por uma refundação, num processo severíssimo de autocrítica”. O partido, diz ele, pode continuar como está e ganhar eleições, ter parlamentares, mas vai ficar “sem qualquer credibilidade e sem perspectiva de ser uma alternativa de projeto político para o país; isso acabou”.

O julgamento, afirmou Freire, além de desnudar o que o ministro Celso de Mello chamou de “macrodelinquência governamental”, mostra “as entranhas daquilo em que se transformou, no governo, o Partido dos Trabalhadores”. O deputado lembrou ainda que o ministro Carlos Ayres Britto disse que o PT perpetrara uma tentativa de golpear as instituições para permanecer no poder.

Freire comparou o julgamento do mensalão à Operação Mãos Limpas, desenvolvida na Itália na década de 90 pelo Poder Judiciário e o Ministério Público. “Naquela oportunidade ficou evidenciada uma relação promíscua entre a máfia e o poder político, exercido, então, por cinco partidos, sob a liderança da Democracia Cristã”. Do processo resultou uma crise que desaguou no desaparecimento dos cinco partidos. “O primeiro-ministro, na época, teve de fugir da Itália com medo de ser preso”.