Alegria, alegria

(*) Carlos Brickmann –

Lembra do ex-senador Demóstenes Torres, do DEM goiano, um feroz parlamentar que, segundo elogio de um de seus amigos, estava sempre pronto a apontar o dedo contra os adversários? Demóstenes, acusado de ligações perigosas com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, já perdeu o mandato. E acaba de ser suspenso de suas funções no Ministério Público de Goiás, cargo ao qual retornara em 13 de julho, depois de ser cassado por seus companheiros senadores. A Corregedoria-Geral do Ministério Público goiano instaurou quarta-feira um processo administrativo disciplinar contra o procurador, para apurar se violou seus deveres funcionais. Demóstenes fica suspenso até o julgamento final do caso.

Feliz com a demonstração de que até os cidadãos acima de qualquer suspeita podem ser punidos ao violar a lei? Calma! O procurador Demóstenes Torres está suspenso, não precisa trabalhar, mas o salário integral, próximo de R$ 25 mil mensais, continua sendo religiosamente creditado em sua conta. Digamos que, graças aos problemas que teve ao ser descoberto, se livrou das consequências do pecado original e foi dispensado de ganhar o pão com o suor de seu rosto.

A propósito, a presidente Dilma Rousseff negou-se a aceitar o pedido de exoneração do ex-deputado José Genoíno, condenado pelo Supremo Tribunal Federal no processo do Mensalão, que continua portanto ocupando seu lugar no Ministério da Defesa, sob as ordens do ministro Celso Amorim.

Punidos, sim; mas mal pagos, nunca.

O chefe…

O alto-comando do PSDB estuda como representar à Procuradoria-Geral da República contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por participação no caso do Mensalão. Se José Dirceu foi considerado culpado pelo Supremo Tribunal Federal, por que Lula estaria fora do processo? “Dirceu e Lula agiram em conjunto e não há como isolar as ações de ambos”, diz o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias. “Lula sabia do esquema, participou de toda a farsa e, no mínimo, cometeu crime de responsabilidade”.

DEM e PPS concordam com a representação, mas acham melhor esperar o fim do atual julgamento.

…de verdade

Há uma entrevista de José Dirceu à revista Playboy, em 2006, guardada como preciosidade pelos adversários de Lula. Nela, em destaque, está uma frase de Dirceu: “O Lula não dá cheque em branco pra ninguém. Ele delega, mas controla, cobra. Sabe de tudo o que acontece. Quem acha o contrário nos subestima”.

Racismo bravo

No dia em que o ministro Joaquim Barbosa foi eleito presidente do Supremo, dois diplomatas brasileiros, negros, foram barrados na entrada da cerimônia pela segurança. Alegação: “o sistema está travado”. Só para ambos: os demais convidados entraram normalmente. Mais tarde, o secretário de Segurança Institucional do Supremo, Fernando Martínez, disse que os dois diplomatas tinham ido ao prédio na semana anterior em atitude suspeita. Qual? Não houve informação.

O fato é que Carlos Frederico Bastos da Silva e Fabrício Prado, da Divisão de Assuntos Sociais do Itamaraty, apresentaram documentos e o convite para a cerimônia e foram barrados. Quem não era negro entrou sem problemas. Ambos, só quando apareceu no local um supervisor e autorizou sua entrada.

Cotas, benefícios, ação afirmativa? Que tal começar investigando e punindo, na forma da lei, quem discrimina cidadãos brasileiros pela cor da pele?

O bem-bom

Marcelo Freixo, candidato do PSOL à Prefeitura do Rio, derrotado no primeiro turno pelo peemedebista Eduardo Paes, resolveu tirar férias de dez dias para descansar da campanha. Deixou contas a pagar de R$ 100 mil.

Deve ser ótimo poder descansar enquanto outros pagam as dívidas.

A dança das letrinhas

O PDT estadual apoia Serra em São Paulo, o PDT nacional vai com Haddad. O PSB, que derrotou o PT no primeiro turno em Belo Horizonte e no Recife e enfrenta o PT em Campinas, apoia o PT em São Paulo, embora seu líder maior, o governador Eduardo Campos, jogue junto com o prefeito Gilberto Kassab, cacique do PSD, apoiador de Serra.

O PCdoB está ao lado do PP de Maluf e do PDT nacional em São Paulo, com Haddad; perdeu em Porto Alegre, sempre ao lado do PP de Maluf, para o PDT; pede apoio ao PP de Maluf em Manaus para enfrentar o PSDB (lá, Maluf fica neutro). O PMDB de Chalita apoia Haddad em São Paulo, mas Alaíde Quércia, viúva do maior cacique do partido, fica com Serra. O PT quer apoio nacional do PMDB, desde que o PMDB não queira o apoio do PT em Natal.

Entendeu? Não? Ótimo: ninguém entende.

A lei como ela é

De acordo com a Lei de Acesso à Informação, os órgãos públicos são obrigados a fornecer informações sobre o salário de seus servidores. O Senado as fornece – desde que, como testou o colunista Cláudio Humberto, quem pede se disponha a passar um bom tempo fazendo tentativas. É tudo informatizado, mas nada se faz sem preencher longos formulários. A lei é cumprida, mas a que custo!

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.